Opinião

Arte x mão de obra artística – Aldonso Palácio

Götz Valien, Paris Bar (Variante 3), 1993-2010, acrilica sobre tela, 281 x 381 cm

Em Berlim, uma longa discussão sobre direitos autorais em obras de arte retorna à tona devido a uma nova exposição. Martin Kippenberger (1953-1997) foi um dos grandes nomes da arte alemã de sua geração conhecida como os “enfants terribles”. Seu trabalho hoje se encontra nos principais museus e coleções do mundo. Em 1992 o jovem artista Götz Valien recebeu um pedido de seu chefe da empresa de cartazes. Ele deveria reproduzir em uma pintura de dois metros por quatro a fotografia de uma parede do Paris Bar, famoso local da cena artística berlinense. A ideia para essa comissão foi feita pelo então já famoso Martin Kippenberger. Tratava-se de um trabalho árduo que continha, além da obra em si, 18 obras de arte de diferentes técnicas a serem fielmente reproduzidas. Götz Valien realizou a comissão e recebeu na época 1000 marcos (aproximadamente 850 euros de hoje) pelo trabalho.

Esta obra ficou quase 12 anos exposta no Paris Bar. Pouco tempo depois Valien ainda recebeu outro pedido de Kippenberger para uma segunda pintura do mesmo motivo, mas desta vez uma versão com a pintura dentro da pintura. Hoje, esta faz parte da coleção de François Pinault e está exposta na Bourse de Commerce em Paris. 

Em 2009 a pintura número 1 aparece no catálogo da Christie’s, onde foi leiloada a 2,5 milhões de euros. Nenhuma menção ao nome de Valien foi feita, o autor permaneceu sendo Martin Kippenberger. Em 2010 Valien terminou uma terceira versão da obra que havia começado em 1993, desta vez por iniciativa própria, sem comissão, que até hoje ele só havia mostrado a um pequeno grupo de pessoas em seu ateliê. 

Acontece que agora Valien está prestes a abrir uma exposição individual e quer mostrar a sua obra número 3 publicamente pela primeira vez. Os representantes do espólio de Kippenberger tiveram que ser consultados e declararam a obra como uma reencenação da original. O mundo da arte de Berlim concorda claramente que Kippenberger é o detentor da ideia, e portanto autor, sendo Valien um simples contratado para executar a obra. Especialistas em direitos autorais falam que Valien é o detentor genuíno da autoria das obras que foram feitas por suas mãos sem nenhuma influência de Kippenberger. 

A obra número 3 já recebeu muitas propostas de compra, mas Valien quer que as casas de leilões decidam o valor. Seu prognóstico: “algo entre 1000 marcos e 2,5 milhões de euros”. A exposição que abre na Haus am Lützowplatz em Berlim promete reacender as questões ao redor da autoria das obras do Paris Bar, mas o veredito sobre quem na verdade merece os créditos da obra permanece em aberto.

Serviço:

Götz Valien – Lieber Maler
Haus am Lützowplatz, Berlim
28 de janeiro a 27 de março de 2022

www.hal-berlin.de

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