Economia

Resultado da pandemia, PIB cearense tem queda de 14,55% no 2º trimestre

Indústria e serviços foram os setores que mais sofreram nos meses de abril, maio e junho. Porém, agropecuária teve PIB positivo de 18,88%

Marta Bruno
martabruno@ootimista.com.br

O segundo trimestre do ano (abril, maio e junho) foi o que mais sofreu impacto negativo na atividade econômica cearense, devido às medidas de isolamento social e lockdown. Por conta disso, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) para o período, apresentado ontem pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), não foi surpresa. O conjunto de três meses fechou com queda de 14,55% em relação ao mesmo período de 2019, quando o índice ficou em 1,53% positivo.

O resultado inverteu as estimativas previstas antes da pandemia para o crescimento econômico local e nacional, uma vez que o indicador brasileiro também apresentou queda de 11,4% no mesmo período. A boa notícia para a economia local é que atualmente a involução no cenário local é mais amena do que em nível nacional. Enquanto a no Ceará o indicador atual é de PIB negativo de 4,35% (em junho era de menos 4,92%), no país estima-se queda de 5,11%.

O PIB é calculado com base na atividade dos setores de agropecuária, indústria e serviços. Dos três, o agro foi o único que apresentou dado positivo, com desempenho de 18,88% no segundo trimestre. Contudo, o índice não foi suficiente para reverter o dado geral porque o segmento é o de menor participação no PIB local. O setor de serviços, por exemplo, que representa 75% do PIB cearense, apresentou queda de 13,68% no segundo trimestre do ano. No país, o mesmo indicador foi de 11,2% negativos, com declínio em todos os seis segmentos.

O maior deles foi no comércio, com decréscimo de 24,01%, seguido pelo transporte, com queda de 20,87%; intermediação financeira, com 14,86% negativos; alojamento e alimentação, com involução de 12,35%; administração pública, com 6,11% negativos; e outros serviços, que somam queda de 2,47%. Já a indústria cearense, também no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019, involuiu 33,05%, ficando as maiores quedas nos setores extrativa mineral (85,83% negativos) e transformação (menos 40,96%).

Para o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Coimbra, os dados negativos já eram esperados, pois refletem o impacto da pandemia sobre a economia do Ceará no período de maior isolamento social e paralisação das atividades econômicas. “A decisão do governo de no primeiro momento gerar uma forte retração no isolamento e, no segundo momento aplicar o plano de retomada das atividades econômicas mostra isso. O resultado ocorre em função da pandemia. Os setores mais impactados estão relacionados com os que geram mais riqueza na economia cearense, como os serviços, que são 75% do nosso PIB e teve queda de 13,68%. O comércio, que parou, teve queda de 24%. Junto a isso veio a queda no segmento industrial, que representa menos na economia, mas teve queda de 33%. Já o setor do agronegócio teve crescimento de 18%, mas não foi capaz de amenizar a queda porque representa muito menos na economia”, explica.

Em função desse cenário, Coimbra diz que já observa processo de retomada econômica no final do segundo trimestre e ao longo do terceiro trimestre, que são os meses de julho, agosto e setembro. Para ele, essa leve aceleração deve gerar uma expectativa de retração menor do que a estimada daqui para o fim do ano. A atual estimativa do Ipece é de involução de 4,92% no PIB, mas Ricardo Coimbra estima que o índice possa ficar entre 3% e 3,5%, caso os segmentos econômicos mantenham o ritmo gradual de recuperação das atividades mês a mês, como tem mostrado o ritmo de melhora da arrecadação mensal do Estado.

O presidente do Corecon informa que havia estimativa de que a queda do PIB entre abril e junho chegasse a 18%. Portanto, mesmo negativo, o indicador de 14,55% mostra que a retomada de alguns segmentos – como turismo, entretenimento e eventos – podem mudar o cenário da economia local. “É possível observar, nos fins de semana e feriado, que já existe uma manutenção do turismo e de atividades ligadas ao setor. A partir de outubro, novembro, com a volta do entretenimento, inclusive do futebol com público nos estádios, a economia terá uma nova movimentação econômica e financeira. Isso está ocorrendo de forma continuada”, analisa.

O resultado do PIB estadual no segundo trimestre deste ano (14,55% negativos), em relação ao primeiro trimestre imediatamente anterior, ficou em -13,23%, enquanto o nacional (-11,4%), na mesma comparação, em -9,7%. O acumulado no ano (primeiro semestre) mostra que a economia cearense involuiu -7,58%, enquanto a nacional -5,9%. Já nos últimos quatro trimestres, a queda do PIB cearense foi de -2,72% e a nacional de -2,2%. O analista de Políticas Públicas do Ipece, Nicolino Trompieri Neto, coordenador da equipe de elaboração do PIB, afirma que a solidez fiscal do Estado permite que o governo retome os programas de investimentos públicos planejados, bem como um processo de reabertura das atividades econômicas de forma gradual e responsável, iniciado no mês de junho. “Esses são elementos que permitirão o reaquecimento da economia cearense por todo o segundo semestre de 2020”, diz.

Para o especialista em finanças Thomaz Bianchi, da M7 Investimentos, comércio e serviços, os mais impactados pelas medidas de isolamento no segundo trimestre do ano, podem ser responsáveis pela reversão dos próximos indicadores. “Os índices que medem o sentimento do comércio são bem positivos. Há uma motivação nesse momento para melhorar a movimentação de compra. Os números começam a ser melhores à medida que a economia volta à normalidade. Muita coisa já voltou, dentro das medidas restritivas. Isso vai impactar positivamente nos resultados. Portanto, os próximos indicadores não serão ótimos, mas serão melhores”, estima.

Sobre a indústria, Bianchi acredita que a recuperação é mais rápida, por haver uma demanda reprimida. Já a agropecuária, que não parou, deve seguir tendência de crescimento, uma vez que as safras neste ano são positivas devido à boa reserva hídrica no Estado. “Tudo contribui para uma situação melhor e com tendência a ser ainda mais positiva”, avalia. A expectativa do analista é que tanto em nível regional como em global 2020 feche com PIB negativo, mas com boas perspectivas para 2021. “A recuperação ano que vem deve ser mais forte, justamente porque houve uma parada em um período grande, quando vínhamos de um ciclo positivo. O auxílio emergencial vai continuar impactando no terceiro e quarto trimestre. Ano que vem deve ser melhor do que 2019 e do que seria 2020 se não houvesse a pandemia”, sugere.

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS