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Os campos de concentração brasileiros

Pierre Barreto é engenheiro, escritor e radialista

Recentemente, a palavra holocausto voltou à baila, com o morticínio civil em Gaza, a gafe de Lula e mesmo o filme Zona de Interesse, indicado ao Oscar. O termo mais associado a holocausto, campo de concentração, indica os locais de internamento dos judeus e das câmaras de gás responsáveis por seu extermínio. A história diz que mais de dois milhões de judeus, comunistas, deficientes e outros grupos hostilizados pelos nazistas foram assassinados assim.

Embora o holocausto seja considerado a maior barbárie da civilização moderna, há registros de outros lugares de prisão, tortura e mortes cruéis de pessoas no século XX. A Guerra da Bósnia (1992-95) é um exemplo marcante. Os sérvios diziam realizar uma limpeza étnica, em campos de concentração, nos quais milhares de bósnios foram torturados, executados e mulheres estupradas. O Brasil não fica atrás. Há ao menos três casos que merecem ser citados.

No Ceará, em 1932, os retirantes da seca foram confinados em áreas cercadas, em vários municípios. O objetivo era impedir a invasão das cidades. Mais de 70 mil flagelados estiveram presos, durante muito tempo. Milhares morreram de fome e os cães brigavam, querendo comer os cadáveres. Não há registros oficiais dos mortos, de apagamento proposital.

Os outros dois exemplos brasileiros são os hospitais psiquiátricos de Barbacena (MG) e Juquery (SP). Ao longo de décadas, Juquery foi considerado o maior centro psiquiátrico do Brasil. O hospital misturava criminosos, presos políticos, homossexuais e outros indivíduos “incômodos” à sociedade. As terapias abusivas e as precárias condições sanitárias e alimentares provocavam a morte dos internos. E por último, talvez o pior dos casos: o Hospital Colônia de Barbacena, o “holocausto brasileiro”, um ícone de horror e abuso aos direitos humanos.

Os “pacientes” eram submetidos a eletrochoques sem anestesia, lobotomias, excesso de medicação e isolamento. Apenas 30% dos internos tinham diagnóstico de doença mental. De forma análoga a Juquery, o restante era formado por homossexuais, militantes políticos, criminosos etc. A cultura eugenista do nazismo (limpeza social) sempre foi a razão maior de todas essas barbáries.

 

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