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O mito do Narciso

Rossana Köpf é psicanalista

A palavra “narcisismo” vem do mito grego de Narciso. Segundo o mito, Narciso era um jovem bonito que rejeitou o amor da ninfa Eco. Como punição, ele estava destinado a se apaixonar pelo seu próprio reflexo na água. Incapaz de consumar o seu amor, Narciso “volta o olhar extasiado para o corpo d’água, hora após hora”. Finalmente foi transformada numa flor que ainda hoje leva o seu nome, o narciso.

O conceito de amor próprio excessivo foi reconhecido e examinado ao longo da história, mas só recentemente foi definido em termos psicológicos. Hoje, o narcisismo, e mais especificamente o quadro do transtorno de personalidade narcisista, é definido como uma estrutura de personalidade muito complexa.

O sujeito que sofre disso desenvolve uma verdadeira fixação pela imagem que se refere aos outros. Na verdade, preste muita atenção ao feedback das pessoas com quem o narcisista tem relações mais ou menos próximas. Da normalidade à patologia narcisista.

O narcisismo é um traço de personalidade que pode ser considerado, dentro de certos limites, um estado absolutamente fisiológico. Em alguns aspectos, também é funcional em alguns contextos da vida diária. Porém, se essa atitude psicológica interferir seriamente nas relações interpessoais, nos compromissos diários e na qualidade de vida, pode assumir proporções típicas do narcisismo patológico.

Na psicopatologia, no Manual Estatístico Diagnóstico (DSM-5), o quadro narcísico é indicado entre os transtornos de personalidade. Pessoas com essas características tendem a elogiar exageradamente suas próprias habilidades. Colocam-se no centro exclusivo e preeminente do seu próprio interesse e tornam-se assim objeto de admiração satisfeita.

Indivíduos que demonstram narcisismo patológico tendem a ser absorvidos por fantasias de grandeza e sucesso ilimitado. Frequentemente demonstram uma necessidade quase exibicionista de atenção e admiração dos outros.

Além disso, essas pessoas são incapazes de reconhecer e perceber tanto as avaliações quanto os sentimentos dos outros (leitura de mentes e empatia). Eles tendem a explorar os outros para atingir seus próprios objetivos, bem como a desprezar o valor do trabalho dos outros. Talvez a característica peculiar do narcisismo patológico seja justamente a falta de empatia.

 

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