Economia

Início da vacinação anima o mercado e traz perspectivas de recuperação

Bolsa de Valores, câmbio, serviços e expectativa dos empresários devem sofrer mais rapidamente os impactos positivos. Além da imunização, especialistas apontam necessidade de ações fiscais por parte do governo

Giuliano Villa Nova
economia@ootimista.com.br

 (Foto: João Allbert/Agif/Folhapress)

O início da vacinação contra a covid-19 no Brasil é considerado por profissionais do mercado como elemento fundamental para a recuperação da economia. Os índices da Bolsa de Valores (B3), a taxa de câmbio, o setor de serviços e a expectativa dos empresários e dos investidores são elementos que devem reagir mais rapidamente, e de forma positiva, ao início da imunização no país. “Antes mesmo da vacinação no Brasil, a Bolsa já vinha tendo um crescimento e uma recuperação, com patamares entre 120 e 124 mil pontos. E isso deve se fortalecer agora. Também podemos perceber uma estabilidade na taxa de câmbio, que vai depender de outras variáveis internas e externas, como o início do governo de Joe Biden, nos Estados Unidos”, analisa Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
Ontem (18), a B3 operou em leve alta, em torno de 121 mil pontos, acima dos 120 mil da semana passada. Já o dólar se manteve com pequenas oscilações, encerrando o dia em R$ 5,30.
Lauro Chaves Neto, conselheiro Federal de Economia e assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) projeta que o início da vacinação terá um efeito emocional importante sobre o mercado. “A sensação de segurança que virá progressivamente mexe com a expectativa dos agentes econômicos, especialmente dos empresários, que vão investir mais, e dos consumidores, que vão passar a consumir mais. Tudo isso será impactado pela progressiva imunização da população, e isso traz um reflexo imediato na economia”, observa.

Serviços
Na visão do assessor econômico da Fiec, o segmento de serviços deve ser um dos mais beneficiados pela vacinação. “A imunização vai acelerar principalmente a retomada das atividades do setor de serviços. Este é o setor que está com a retomada mais lenta, porque depende muito da presença e do contato físico”, observa Lauro Chaves Neto. “Por exemplo, os segmentos de turismo, bares, restaurantes, eventos e educação dependem de encontros presenciais para funcionar. E isso só será possível após a imunização da população”, constata o economista.
De acordo com a Pesquisa de Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de serviços no Brasil teve queda de 8,3% entre janeiro e novembro de 2020 – a maior desde 2016 (-5%).

Cautela
Porém, é consenso entre os especialistas que para o mercado recuperar as perdas do ano passado, a vacinação ainda precisa avançar e cobrir boa parte do território, indo além dos grupos prioritários. “A vacina gera expectativa positiva, de que teremos um cenário de ampla retomada das atividades econômicas. Contudo, esse panorama só vai se efetivar à medida que tivermos um número significativo de pessoas vacinadas, o que deve levar alguns meses, dependendo da quantidade que será produzida aqui ou importada”, pondera Ricardo Coimbra. “Estamos vivendo um marco, é um bom direcionamento, e ajuda na perspectiva de melhoria do mercado”, projeta.
“Acreditamos que até o primeiro semestre de 2022 seja possível imunizar a maior parte da população brasileira. Mas vivemos em um país de mais de 211 milhões de habitantes, e se forem duas doses da vacina para cada um, serão mais de 420 milhões de vacinas a serem aplicadas, o que não temos capacidade de produzir, de uma hora para outra, sem contar a questão logística de aplicação”, avalia Lauro Chaves Neto.

Reformas vão acelerar a recuperação da economia

Entre observadores internacionais e analistas brasileiros, há um ponto em comum: para que o país saia da recessão, as reformas governamentais são tão importantes quanto o início da vacinação. “A situação fiscal do governo ainda é complicada. Continuamos com a necessidade das reformas tributária e administrativa. É preciso ter um direcionamento forte, principalmente no primeiro semestre”, analisa Ricardo Coimbra.
“A velocidade de vacinação ditará o quão rápido a atividade econômica retornará ao nível pré-pandemia, mas não altera os desafios estruturais que o país enfrenta”, disse a Guide Investimentos, em nota divulgada ontem. Entre os desafios apontados estão as reformas para equilibrar as contas públicas. Para a SPX Capital, “a falta de atitude do Congresso ou do Executivo em encaminhar as reformas estruturais deixa o país em situação vulnerável. O vento a favor externo ajuda, mas precisamos fazer nosso dever de casa”, analisou a empresa financeira, em nota ao mercado.
Apesar de tantos desafios, Ricardo Coimbra mantém a aposta no mercado brasileiro em 2021. “É provável que a retração que tivemos na economia no ano passado seja recuperada, porque existe a expectativa de crescimento do PIB entre 3% a 3,5%, e a vacina vai ajudar nessa perspectiva”, projeta o economista.

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