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Entenda o papel da biomedicina na condução do combate à covid-19

Especialistas destacam que participação de biomédicos em linhas de pesquisas relacionadas à pandemia vão desde o sequenciamento genético à produção de imunizantes contra o vírus

Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br

Atuação da área é vasta no contexto epidemiológico, explicam especialistas (Foto: Flickr UFC / Reprodução)

A linha de frente de enfrentamento ao novo coronavírus vai muito além dos profissionais que atuam nos hospitais e demais unidades de saúde receptoras de pacientes infectados. Cientistas, pesquisadores e biomédicos têm sido fundamentais, desde o sequenciamento genético do Sars-Cov-2 à produção de vacinas.

“As equipes por trás da concepção de uma vacina são multidisciplinares, ou seja, contam com pesquisadores, farmacêuticos e biomédicos, tudo vai depender da linha de pesquisa. Na produção da vacina de Oxford, na Inglaterra, por exemplo, há biomédicos envolvidos”, explica Cláudio Lôbo, presidente da Associação Brasileira de Biomedicina (ABBM).

A nível de Brasil, conforme Lôbo, há biomédicos também envolvidos no processo de replicação da CoronaVac, imunobiológico da Sinovac, feita pelo Instituto Butantan.

Na explicação do também biomédico e presidente do Conselho Regional de Biomedicina da 2º Região (CRBM2), Djair Ferreira, este profissional está presente em várias fases pertinentes à produção de uma vacina. “Os biomédicos atuam maciçamente nas fases pré-clínicas e clínicas de testes das vacinas”, detalha. Tais fases são fundamentais para entender como os imunobiológicos aplicados em voluntários, ainda na fase de experimentação, se comportam em determinados grupos de pessoas.

Pesquisador na seara de vacinas há dez anos, Ferreira afirma que o quantitativo de vacinas repassado, atualmente, aos municípios ainda é pequeno e impede agilidade na obtenção da imunidade de rebanho da população. A saída, aponta, é conseguir atuar para conseguir maiores aportes de doses para o Sistema Único de Saúde (SUS), liberar a comercialização pelo setor privado, combater fake news anti vacinas e respeitar as regras estabelecidas para vacinação de grupos prioritários.

Outra questão latente no período inicial da pandemia foi a eficácia de remédios voltados ao tratamento de outras doenças, mas que estavam sendo indicados para tratar pacientes com covid-19, como o caso da Cloroquina e a Ivermectina.

“A biomedicina também integra essa área e, nesse âmbito, reafirmamos nosso perfil de formação extremamente científico e, até o momento, não conhecemos tratamento ou fármaco comprovadamente eficaz para reverter uma infecção por covid-19”, reforça Ferreira. Nesta perspectiva, segundo o biomédico do CRBM2, é preciso valorizar cada vez mais a campanha de vacinação e os cuidados com o isolamento social.

Múltiplas frentes
Formado há 23 anos, Ferreira reconhece a importância da profissão, mas afirma nunca ter visto se falar tanto na referida área como tem ocorrido na pandemia. O motivo, atribui, se deu pela urgência em conseguir respostas para combater o vírus.

“No que diz respeito a uma nova doença como a covid-19, é primordial o isolamento e sequenciamento genômico do microrganismo causador. A biomédica Jaqueline Goes, à frente de um grupo de pesquisa que também é integrado por outros biomédicos, foi a primeira a realizar o sequenciamento genômico do Sars-Cov-2”, resgata.

Ainda na análise do presidente do Conselho que responde pela classe em todos os nove estados do Nordeste, também houve grande envolvimento de biomédicos na concepção dos testes diagnósticos para atestar infecção pelo novo coronavírus. “Além dos testes, como o caso dos testes rápidos, houve a atuação na realização de diagnóstico nas linhas de frente, barreiras sanitárias, laboratórios clínicos realizando sorologias que permitem maiores esclarecimentos dos níveis de anticorpos (IgG e IgM)”, completa.

Ceará é robusto em pesquisa, afirma presidente do CRBM2
Responsável pela classe de biomédicos nos nove estados do Nordeste, Djair Feitosa, presidente do Conselho Regional de Biomedicina da 2º Região (CRBM2), afirma que o Ceará está bem preparado no quesito de pesquisas científicas.

“Hoje, o Ceará representa um estado robusto no quesito pesquisa, inclusive nesse estado foi criada uma rede envolvendo vários outros estados do Nordeste com programas de doutorado com grande destaque na produção de patentes e artigos científicos”, destaca. Já a nível de nordeste, Ferreira afirma que é preciso ocupar mais espaços no mercado de trabalho.

No âmbito nacional, o biomédico e presidente da Associação Brasileira de Biomedicina (ABBM), Cláudio Lôbo destaca que a inclinação de profissionais da biomedicina a linhas de pesquisa começou há cerca de 25 anos. “No fim da década de 1990 e início dos anos 2000 tivemos um um ‘boom’ de profissionais que começaram a desenvolver diversas linhas de pesquisa capazes de trazer inúmeros benefícios à sociedade”, endossa.

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