Economia

Consumidores de menor poder aquisitivo demandaram menos crédito em 2020

Necessidade do consumidor por crédito fechou 2020 com a primeira queda em seis anos, de acordo com levantamento da Serasa Experian. Auxílio emergencial dado a partir dos meses de isolamento influenciou nos resultados

Lucas Braga
economia@ootimista.com.br


A procura por crédito no Brasil caiu 1% em 2020, quando comparada com 2019. Foi a primeira vez, desde 2015, que o índice fechou o ano no negativo, conforme o Indicador de Demanda do Consumidor por Crédito da Serasa Experian.
Ainda assim, este é sinal da retomada do mercado, de acordo com os especialistas. Apenas as regiões Norte e Sudeste não registram queda na demanda dos consumidores por crédito no ano passado, com altas de 1,3% e 0,2% respectivamente; enquanto o Centro-Oeste marcou -4,5%, seguido pelo Nordeste (-3,7%) e Sul (-0,3%).
Quando observado somente o comparativo interanual, isto é, dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o cenário geral da demanda por crédito é de alta (14,1%). Esta é outra comprovação da retomada do crédito, considerando a queda aproximada da economia brasileira de 4,5% no ano passado.
Portanto, a queda de 1% na busca por crédito, menor que a queda do Produto Interno Bruto (PIB), é reflexo da retomada paulatina dos diversos setores econômicos no segundo semestre, como lembra Lauro Chaves Neto, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona.
Outro fator relevante para o saldo anual foi o auxílio emergencial dado ao setor produtivo a partir dos meses de isolamento. Mais de 68 milhões de brasileiros receberam o auxílio, o que supriu parte das necessidades de consumo dessa população mais vulnerável.
“A conjunção desses fatores evitou maior queda da demanda. Em 2021 com o fim do auxílio e falta de perspectiva de novo programa de transferência de renda, é bem provável que tenhamos aumento da demanda de crédito dessa parcela da população e seu nível de endividamento”, projeta Lauro. Considerando o ano atípico, com a redução expressiva da atividade econômica durante a pandemia, o consumidor percebeu necessidade de focar em gastos prioritários e deixar de lado alguns segmentos que impulsionam a demanda por crédito, como o financiamento automotivo.
Raul dos Santos Neto, economista e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef Ceará), lembra que, apesar da taxa básica de juros ter caído ao menor patamar da história, em 2% ao ano, essa baixa não chegou integralmente ao consumidor. “A gente continua vendo linhas de crédito pessoal com juros na casa de 3% a 4% ao mês. É um spread muito elevado. Os bancos e financeiras não reduziram tanto suas taxas porque a percepção de risco é grande, pela reorganização dos setores produtivos e de consumo, além do alto nível de desemprego ”, analisa Raul. Ainda assim, a reabertura do comércio, as renegociações de dívidas e a redução dos juros foram fatores essenciais para a retomada do mercado de crédito e a recuperação do consumo, como frisa o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.
Enquanto no acumulado do primeiro semestre de 2020, fortemente impactado pela pandemia, a demanda do consumidor por crédito recuou 8,1%, no acumulado do segundo semestre já se observou alta de 5,5%.
A maior queda do ano na procura por crédito foi na faixa de renda de até R$ 500, mas todas as faixas tiveram retração. Segundo Rabi, as reservas financeiras fazem diferença na participação do consumidor no mercado de crédito, diante da instabilidade econômica.
“A população de menor renda geralmente não possui reservas, o que aumenta a insegurança e faz com que a sua participação no mercado se retraia mais intensamente. Por outro lado, aqueles que recebem mais de R$ 2 mil mensais costumam poder contar com poupanças e aplicações em momentos de crise, o que lhes permitem continuar consumindo ou, na pior das hipóteses, reduzir menos intensamente as suas demandas”, conclui.

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