Jornal Impresso

Carolina Mesquita
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O mundo digital tem o potencial de transformar profundamente a vida dos idosos, proporcionando-lhes maior autonomia e um vasto leque de possibilidades. Com o acesso à tecnologia, os idosos podem realizar tarefas cotidianas de forma independente, como pagar contas, fazer compras online e utilizar serviços bancários, reduzindo a necessidade de depender de familiares. É exatamente essa inclusão que o Instituto Idear vem realizando com idosos do Ceará por meio do projeto “Chá Tecnológico e Social”. A iniciativa gratuita tem como objetivo principal capacitar pessoas com mais de 60 anos a fazerem os primeiros contatos com o ambiente digital. Com atividades voltadas para o uso cotidiano de tecnologias como celulares e aplicativos, o projeto já alcançou mais de 2,3 mil idosos.

Cristina Luz, coordenadora do projeto, relembra o início da iniciativa. “O projeto começou entre 2019 e 2020, antes da pandemia. A ideia inicial era incluir digitalmente as pessoas idosas, ensinando a usar o computador, e-mail, pesquisar na internet. Aí veio a pandemia”, conta. A necessidade de distanciamento social, então, impulsionou uma mudança de foco. “Como nós já trabalhávamos com educação a distância, adaptamos a metodologia para ensinar o uso do celular e dos aplicativos, que se mostrou muito mais acessível naquele momento.”

Estrutura e Suporte

O projeto é estruturado para atender às necessidades dos idosos. Cada aluno recebe uma bolsa equipada com uma blusa, tablet, chip com internet, fone de ouvido e apostila. O primeiro encontro é presencial, onde os participantes são apresentados ao funcionamento do tablet e orientados sobre como participar das aulas online. “Fazemos simulações e eles saem sabendo como entrar nas próximas aulas”, explica Cristina.

As demais aulas são realizadas ao vivo pelo Google Meet, com uma programação que começa com o uso básico da tecnologia. “As primeiras aulas são sobre configurações básicas, salvar um contato, ajustar o volume do toque, enviar uma foto, redes sociais, como pesquisar na internet”, detalha Cristina. Os idosos aprendem a usar aplicativos bancários, de transporte e de compra, e muito mais. Para participar, os interessados devem ter mais de 60 anos, serem alfabetizados, terem tempo e interesse em participar, e, preferencialmente, estar em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Impactos Positivos

O impacto do projeto na vida dos idosos é profundo e abrangente. Cerca de 95% dos participantes afirmaram que a iniciativa mudou suas vidas, segundo a coordenadora. Ela destaca a importância de capacitar os idosos a lidar com finanças próprias, reduzindo espaço para a violência patrimonial. A socialização é outro benefício significativo. “Eles fazem amizades, se comunicam pelo WhatsApp, e isso ajuda a combater o isolamento”, ressalta. Cristina também observou melhorias na saúde mental dos participantes: “Muitos idosos que estavam iniciando processos de depressão ou vivenciando ansiedade se sentiram renovados com a socialização e o aprendizado”.

A aposentada Célia Viana, de 76 anos, participou de uma das primeiras turmas do projeto, ainda em 2019. À época, recorda, os filhos haviam-lhe dado um celular novo, mas ela não sabia usar muito bem o aparelho. “A pessoa que já tem uma certa idade não entende bem as coisas assim de primeira, precisa insistir e ensinar tudo. Uma colega me indicou o Idear e fui aprendendo. Graças a Deus, hoje, eu tenho ‘zap’, ‘face’, todos esses aplicativos. Foi um divisor de águas na minha vida”, relata.

Depois da capacitação tecnológica, a idosa participou de outros 15 cursos, entre os quais de plantas ornamentais, fotografia, turismo digital, legislação, além de participar do coral da instituição. “Eu sempre plantava coentro, mas nunca nascia. Aí a professora do Idear me ensinou. Eles são os anjos, têm muita paciência com a gente. Aprendi também a bater foto no celular, a fazer selfies, a entrar nos museus dos Estados Unidos. Vi tanta coisa linda!”, conta Célia.

Alcance

Para 2024, a meta do “Chá Tecnológico e Social” é beneficiar 800 idosos em 19 municípios cearenses e 450 apenas em Maracanaú, totalizando 1.250 pessoas capacitadas. “Provavelmente, a gente já comece a divulgar novas turmas para os demais municípios a partir de agosto”, antecipa Cristina, indicando que as inscrições estão sempre abertas e o projeto está em constante expansão. O financiamento do projeto vem de doações de empresas, que destinam 1% do Imposto de Renda ao Fundo Estadual do Idoso do Ceará (FEICE) e ao Conselho Estadual de Direitos do Idoso do Ceará (CEDI).

“É muito importante destacar que esse recurso captado só está vindo para apoiar o projeto. As empresas acompanham as metas e monitoram se estão sendo cumpridas, o que garante a transparência e a eficácia do projeto”, acrescenta Cristina.