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A chantagem do Congresso

Pierre Barreto é engenheiro, escritor e radialista

O governo Lula está manietado na sua relação com o Congresso, em função da reduzida bancada oficial (apenas cerca de um terço de deputados e senadores). Respeitando a tradição nefasta da política brasileira, a aprovação dos projetos governamentais tem sido precedida da negociação de cargos e verbas. Os partidos que apoiaram Bolsonaro na eleição de 2022 já possuem cinco ministérios no governo: Comunicações (UB), Pesca e Aquicultura (PSD), Turismo (UB), Portos e Aeroportos (PR) e Esporte (PP).

O senador David Alcolumbre coordenou a indicação às três primeiras pastas, no início do governo, nenhum deles senador. Arthur Lira foi o responsável pelos dois seguintes, dep. André Fufuca (Esportes) e dep. Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). Além disso, ele exigiu publicamente a diretoria da Caixa, explicitando isso numa entrevista ao Estadão. Pouco tempo depois Lula substituiu a presidente da CEF pelo indicado de Lira, com direito à nomeação dos nove vice-presidentes.

Comenta-se que outra promessa do governo seria a recriação da Funasa, no passado um dos maiores antros federais de corrupção (na área de saúde, imaginem!). Vale lembrar uma antiga observação de José Serra a um político, no Ministério da Fazenda: “para que o senhor quer a diretoria financeira da empresa?”

Se possível, a resposta teria sido “para fins de desvio de dinheiro”, todo mundo sabe. Os tradicionais “presidencialismos de coalizão” têm sido apenas mecanismos de fomento e realização de corrupção.

Lula agora enfrenta o problema da falta de contrapartida dos partidos atendidos com as nomeações. Recentemente, o Senado rejeitou o nome indicado para a Defensoria Pública da União (DPU). A maioria dos membros do PP e PR votou contra a indicação. O Senado está se rebelando contra o governo, pela ausência de senadores no ministério. Esquecem que os ministros nomeados foram apontados por Alcolumbre, com o apoio do presidente Rodrigo Pacheco.

Já se fala que o nome de Flávio Dino para o STF também poderia ser rejeitado. A chantagem do Congresso contra o governo está claramente declarada. Cada novo projeto vai requerer outra discussão de cargos e vantagens políticas.

 

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