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Linha de crédito exclusiva do BNB financiou R$ 1,2 bilhão em quatro meses

Responsáveis por 54% dos empregos no Brasil e constituindo 98,5% do total das empresas formais, as micro e pequenas empresas foram as mais beneficiadas com o FNE Emergencial. Para o presidente do BNB, Romildo Rolim, assistir a esse cliente representa fortalecer a recuperação da economia pós-pandemia

Marta Bruno
martabruno@ootimista.com.br

Através de recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o Banco do Nordeste traçou sua principal ação de linha de crédito durante a pandemia. Com a finalidade de promover a recuperação ou preservação das atividades produtivas, o FNE Emergencial contratou, entre o final de abril e o último dia 14 de agosto, R$ 1,2 bilhão distribuídos em 18,6 mil operações, sendo a maior parte, 88,4%, direcionados a operações de capital de giro. Para o presidente do BNB, Romildo Rolim, a rapidez na iniciativa foi fundamental para garantir a saúde financeira de negócios locais, especialmente junto a micro e pequenas empresas no comércio e serviços. Para o presidente, essa janela socorreu empresas pressionadas pela crise, ajudou a manter os empregos e é um passo importante no processo de retomada da economia. Com 31 anos de BNB completados no mês passado, o mestre em Avaliação de Políticas Públicas acredita que a instituição está cumprindo seu papel social de fomentar o desenvolvimento econômico local de forma sustentável e regionalizada.

O Otimista – Como a linha de financiamento à micro e à minigeração de energia, o FNE Sol, contribui com o desenvolvimento sustentável local? De que maneira se dá a compensação no consumo de energia?

Romildo Rolim – O FNE Sol financia projetos residenciais de geração de energia, contribuindo para reduzir custos com energia elétrica de forma sustentável, a partir da geração de uma matriz de energia limpa. Considerando-se que o sol é recurso natural disponível em abundância na Região e no Ceará, por exemplo, onde se registram 2.800 horas de sol por ano, trata-se de uma grande oportunidade para que se possa almejar a autossuficiência em energia renovável. O Programa beneficia micro e minigeradores de energia elétrica pessoa física e financia todos os componentes dos sistemas de micro e minigeração de energia elétrica fotovoltaica ou eólica, assim como sua instalação. O FNE Sol oferece prazos de até 8 anos, incluindo carência de até 6 meses e limites de até 100% do valor do investimento, dependendo do porte e da localização do cliente, com valor de até R$ 100 mil. Com a efetivação do crédito e a consequente instalação de seu sistema próprio de energia, o cliente pode se beneficiar do sistema de compensação de energia elétrica, por meio do qual a energia injetada pela unidade consumidora com microgeração ou mini geração distribuída é cedida, por empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa.

O Otimista – Que produtos o Banco criou especificamente nesse cenário de pandemia e como tem sido os resultados?

Romildo Rolim – Sem dúvida, o FNE Emergencial constitui a ação mais relevante do Banco do Nordeste no cenário de pandemia. Linha de crédito especial criada pelo Governo Federal, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Regional, o FNE Emergencial é operacionalizado exclusivamente pelo Banco do Nordeste, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Destina-se a promover a recuperação ou preservação das atividades produtivas. A linha atende atividades produtivas não rurais, especialmente micro e pequenas empresas, vinculadas aos setores de empreendimentos comerciais e de prestação de serviços. Com sua operacionalização iniciada no final de abril, o FNE Emergencial já contratou, até 14 de agosto último, R$ 1,2 bilhão distribuídos em 18,6 mil operações, dos quais 88,4% direcionados a operações de capital de giro. O Banco também adotou ações adicionais, promovendo renegociações emergenciais de empréstimos e financiamentos. Suspendeu automaticamente o vencimento das parcelas de 2020 de financiamentos não rurais com recursos do FNE, com possibilidade de acréscimo de até 12 meses ao vencimento final da operação; permitiu a prorrogação das parcelas com vencimento em 2020 de financiamentos rurais para pagamento em 15 de dezembro; e implementou a renegociação emergencial, possibilitando a concessão de até 6 meses de carência e 6 meses de acréscimo ao vencimento final das operações de empréstimos e financiamentos não rurais. E todas essas soluções foram implementadas com possibilidade de atendimento digital, pelo internet banking ou por aplicativo de celular, por meio da rede de agências do BNB. Especificamente em relação ao microcrédito urbano, o Banco prorrogou automaticamente as operações do Crediamigo por 60 dias.

O Otimista – Com a linha FNE Emergencial, que oferece juros de 2,5% ao ano e carência estendida até o fim do ano, essa folga no pagamento deve contribuir de que maneira para a retomada da economia?

Romildo Rolim – O FNE Emergencial é fundamental para os empreendedores da área de atuação do Banco – os nove estados da Região e o norte de Minas Gerais e do Espírito Santo – não apenas pelos juros muito baixos de 2,5% ao ano, mas, principalmente, porque veio imediatamente após a decretação da pandemia causada pelo novo coronavírus. A iniciativa rápida permitiu minimizar problemas na economia regional, possibilitando ao empresariado manter a saúde financeira de seus negócios. Ao mesmo tempo e não menos importante, também, é que o FNE Emergencial, ao criar uma janela para as empresas pressionadas pela crise, ajudou a manter os empregos. Consequentemente, o passo para a retomada se apresenta bem menos difícil.

O Otimista – A despeito do cenário de dificuldades geradas pela pandemia, o Banco investiu, nos primeiros cinco meses deste ano, mais de R$ 16 bilhões de créditos novos. Em que medida o micro e o pequeno empresário serão responsáveis pela saída desse quadro de crise gerado pela pandemia?

Romildo Rolim – As micro e pequenas empresas são fundamentais para a economia de qualquer país. No Brasil, elas têm representatividade de cerca de 27% do PIB, geram 54% dos empregos e constituem 98,5% do total das empresas formais. Considerando que, no Brasil, elas são responsáveis pela maioria dos empregos e consequentemente da renda, o fortalecimento dessas empresas é fundamental para a recuperação da economia pós-pandemia. Nesse contexto, o papel do Banco do Nordeste, nos primeiros oito meses do deste ano, foi fundamental para mitigar as consequências da crise sanitária junto aos MPE. O Banco financiou R$ 2,8 bi (29,1% a mais que no mesmo período de 2019), beneficiando 21 mil empreendedores MPE, somando 31 mil operações de crédito com recursos próprios e do FNE. Entre as diversas facilidades oferecidas aos empreendedores no período da pandemia, o Banco suspendeu automaticamente o vencimento das dívidas e ofereceu condições favoráveis para prorrogação por meio digital, além de disponibilizar o FNE Emergencial, contratando mais de R$ 1,2 bilhão, na posição de 14 de agosto. Além disso, o Banco do Nordeste dispõe de uma gama de produtos e soluções financeiras para as MPE, objetivando estimular a inovação e aumentar a competitividade e produtividade dessas empresas, fatores importantes para o fortalecimento dessas empresas após a crise.

O Otimista – Com a necessidade urgente de crédito, o Crediamigo e o Agroamigo cresceram no semestre passado. Foram desembolsados R$ 5 bilhões em mais de 1,8 milhão de operações. O que essa procura mostra a respeito dos próximos passos da economia?

Romildo Rolim – É importante ressaltar que o Banco do Nordeste, por intermédio do seu programa de microcrédito produtivo orientado urbano, Crediamigo, contratou, no primeiro semestre de 2020, mais de 2 milhões de operações, correspondendo aproximadamente a R$ 5 bilhões. Esse valor é 4% maior do que o contratado no mesmo período do ano passado, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas no semestre decorrentes da Covid-19 que, em alguns casos, literalmente impossibilitou a atuação dos nossos agentes de microcrédito. Tal desempenho demonstra que o BNB esteve durante todo este período empenhado em auxiliar as atividades dos seus clientes, permitindo que eles continuassem gerando renda por meio das suas atividades produtivas e mantendo o sustento de suas famílias.

O Otimista – Em mais de 20 anos de atuação e alcançando 6 milhões de microempreendedores, o Crediamigo faz parte do desenvolvimento das regiões onde o banco atua. Nesse momento de retomada dos negócios, qual a importância de interiorizar os investimentos e ampliar a carteira de clientes de maneira regionalizada?

Romildo Rolim – Essa importância é crucial dentro do entendimento de que a atividade econômica dos municípios localizados no interior da nossa região apresenta, na sua grande maioria, dinamismo menor do que os dos maiores centros urbanos, onde ficam localizadas as capitais estaduais, necessitando, desta forma, de mais estímulos para se manterem. Esta ação corrobora para uma menor pressão quanto à necessidade de deslocamento das pessoas para as cidades maiores que, via de regra, já apresentam graves problemas urbanos relacionados a emprego, moradia, educação, saúde e segurança. No momento em que o Banco trabalha sob a perspectiva de crescer sua carteira de clientes e de negócios, interiorizando sua operação, ele estimula a permanência destes microempreendedores nas suas localidades, com reflexos socioeconômicos positivos decorrentes desta atuação.

O Otimista –  Que potenciais têm se mostrado nesse momento, em se tratando de microcrédito? A agricultura, que foi um dos setores que menos sofreu com a pandemia, continua sendo primordial para o desenvolvimento dos estados contemplados pelas operações?

Romildo Rolim – A agricultura tem papel importantíssimo dentre as atividades econômicas exploradas na nossa Região. Neste particular, convém destacar que, somente por meio do Agroamigo, programa de microcrédito produtivo orientado rural, o Banco do Nordeste contratou, no primeiro semestre de 2020, mais de R$ 1,24 bilhões de reais, valor 12,2% superior ao contratado no mesmo período do ano passado. Importante salientar que o Banco do Nordeste, na posição de dezembro de 2019, era responsável por 73% de todos os créditos contratados com a agricultura familiar na região. No caso do Ceará, este número alcançava o percentual de 81,6%. Isso mostra de forma inconteste a importância que o Banco dá ao setor, não só pela geração de alimentos, mas, principalmente, dentro de uma perspectiva de fixação do homem no campo em condição de poder sustentar sua família por meio da exploração de atividades produtivas.

O Otimista – Como o Banco tem feito a articulação de políticas públicas e de desenvolvimento local e territorial, para a incorporação de inovações tecnológicas nas atividades produtivas?

Romildo Rolim – Um dos eixos de atuação do Banco do Nordeste é o BNB Prodeter, Programa de Desenvolvimento Territorial que incorpora inovações tecnológicas em atividades produtivas. É uma estratégia do Banco para contribuir com o desenvolvimento territorial e local por meio da organização, fortalecimento e elevação da competitividade das atividades econômicas. O Programa está implantado em 132 territórios e conta com agentes de desenvolvimento para sua execução. A operacionalização se dá por meio da efetivação de um plano de ação territorial que contempla, dentre ações que visam ao aumento da competitividade das atividades econômicas por ele priorizadas, iniciativas voltadas para a inovação tecnológica dos segmentos produtivos. Ainda com o propósito de promover ações voltadas para incorporação de inovações tecnológicas nas atividades produtivas objeto de financiamento tendo como amparo o BNB Prodeter, o Banco do Nordeste conta com três importantes instrumentos: o Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci), o Programa de Financiamento à Inovação e o Hub de Inovação Banco do Nordeste. Visando promover a difusão e a transferência de tecnologias adequadas ao desenvolvimento regional e à sustentabilidade econômico-financeira dos projetos produtivos apoiados pelo BNB, o Fundeci financia, com recursos não reembolsáveis, a execução de projetos de interesse recíproco por meio de convênios com entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos. No final de 2019, o BNB lançou o Edital Fundeci 02/2019 – Desenvolvimento Territorial com objetivo de proporcionar apoio financeiro para a difusão e transferência de tecnologias junto aos diferentes elos das cadeias produtivas das atividades priorizadas pelo Agronordeste e pelo BNB Prodeter. Já o Programa de Financiamento à Inovação financia, com recursos reembolsáveis do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), projetos de investimento em inovação. Nos setores não rurais, o Programa financia projeto direcionado à implantação, modernização, reforma, relocalização ou ampliação que viabilizem inovações em produtos, serviços, processos e métodos organizacionais nos empreendimentos. No setor rural, financia projetos para inovação tecnológica nas propriedades rurais, contemplando investimento rural e custeio associado a investimento.

O Otimista – A Associação Latinoamericana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento (Alide) reconheceu o Hub de Inovação do BNB como prática inovadora. Como o Banco enxerga o crescimento das startups e de outras inovações como para avançar no desenvolvimento e crescimento econômico?

Romildo Rolim – O Banco do Nordeste entende que as startups são, em sua maioria, Micro e Pequenas Empresas (MPEs). E este segmento vem desempenhado papel fundamental e relevante para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, já que a sua participação na geração de emprego e renda cresce, representando 30% do PIB do País. Esse dado, por si, seria suficiente, contudo, as startups trazem ainda em seus modelos de negócio a tecnologia para prover a escala à sua produção e aos seus produtos. A eficiência desse modelo de economia digital dever servir de exemplo à sociedade nordestina que tanto carece de empreendimentos de sucesso frente às adversidades econômicas.

O Otimista – Dada a urgência por crédito nesse momento, que soluções o banco criou para desburocratizar processos e fazer o recurso chegar mais rápido ao empresário ou empreendedor?

Romildo Rolim – Os impactos da pandemia na economia da Região exigiram mudanças rápidas e efetivas que ajudem a minimizar consequências da crise nas empresas e nos empregos. Nesse sentido, o Banco deu grande impulso nas soluções digitais para os clientes. O Banco criou, por exemplo, a Plataforma de Crédito Especializado (PCE) para o cliente registrar solicitação de crédito no portal do Banco. Essa plataforma permite ao cliente solicitar crédito e enviar a documentação necessária para análise de projetos, conferindo mais agilidade e segurança no atendimento. O cliente pode realizar a entrevista pela sua agência de relacionamento e receber notificação por e-mail com a relação de documentos customizada para análise do pleito. No caso do FNE Sol Pessoa Física, para citar outro exemplo, um dos fatores que mais influenciaram a procura pelo programa reside na plataforma de crédito especializado, por meio da qual o cliente solicita o crédito pelo portal do Banco do Nordeste, sem necessidade de se dirigir às agências. O atendimento à pessoa física realiza-se de forma digital desde a abertura da conta até a solicitação do crédito. O Banco também disponibilizou aplicativo para o agronegócio (App BNBAgronegócio), que contempla linhas de crédito do Banco, calendário agrícola, calculadora agrícola, informações de agronegócio, coordenadas geodésicas e aplicativos do BNB e da Embrapa, e está disponível na loja do Google (play store) desde o último 2 de abril. Foram, ainda, adequados sistemas para atendimento às resoluções do Banco Central que viabilizam renegociação de dívidas de forma digital sem a necessidade de o cliente se dirigir a uma agência. Também foram desenvolvidas rotinas de renegociação automática de mais de 90 mil operações de empreendimentos localizados em municípios com decreto de calamidade pública. O Banco implementou, também, mudanças em sistemas visando, por exemplo, não cobrar Imposto sobre Operação Financeira (IOF), durante o período da pandemia, e alterar o limite de saque nos terminas de atendimento automático para R$ 5 mil.

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