Economia

Karina Frota, gerente do CIN da Fiec, fala sobre potencial do Ceará no mercado externo

Com um currículo extenso, Karina Frota é mestre em ciência política pela Universidade Clássica de Lisboa e pós-graduada em comércio exterior pela Universidade Católica de Brasília (Fotos: Edimar Soares)

Catharina Queiroz
economia@ootimista.com.br

Gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota também é vice-presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). Além disso, preside o Conselho de Relações Internacionais da Fiec (Corin) e é diretora de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Brasil – Argentina. Com um currículo extenso, ela é mestre em ciência política pela Universidade Clássica de Lisboa e pós-graduada em comércio exterior pela Universidade Católica de Brasília.

As Câmaras Setoriais e Temáticas são órgãos de caráter consultivo e propositivo, compostas por representantes das entidades privadas, organizações não governamentais e órgãos públicos relacionados aos respectivos segmentos produtivos. Os integrantes dessas câmaras, assim como Karina, atuam em colegiado, identificando as potencialidades e removendo as dificuldades com vistas ao desenvolvimento econômico das atividades produtivas no Ceará.

Ao O Otimista, ela falou principalmente sobre o leque de oportunidades de novos negócios para a pauta exportadora do Estado.

O Otimista: Como você avalia a pauta exportadora do Ceará?

Karina Frota – Na série histórica do Comércio Exterior no Ceará, no recorte dos últimos 20 anos, é visível que a pauta de produtos exportados pelo Ceará era composta basicamente por castanha de caju, tecidos, calçados, lagosta e camarão. Naquela época, o valor anual das vendas internacionais girava em torno de US$ 526 mil. Eram exportados 443 tipos de produtos diferentes, de acordo com a Nomenclatura Comum do Mercosul, para aproximadamente 104 países. O comportamento setorial e os mercados de destino sofreram alterações tímidas, já que havia uma ausência histórica de políticas de promoção das exportações. Por isso, ficam cada vez mais claras a pertinência e a essencialidade de que o processo de internacionalização do Estado exige celeridade. Vinte anos depois, o contexto é diferente em razão da contabilização nas exportações das receitas de vendas externas de produtos siderúrgicos e produtos considerados novos, como as pás eólicas. É possível identificar que o Ceará aumentou a variedade de produtos exportados para o exterior e registrou mais de 1.500 tipos em 2023, o que corresponde a um crescimento de quase 26% em relação ao ano anterior.

O Otimista: Quais as oportunidades de novos negócios para o Estado no âmbito das energias renováveis?

Karina Frota – A Europa não tem o que o Ceará tem, aquilo que a natureza nos concedeu. Terras, ventos fortes, alta insolação e um litoral próprio para a energia eólica offshore. Passamos por uma espécie de revolução pela qual o mundo começa a viver na área da energia. A transição energética que se registra hoje no planeta colocará o Nordeste brasileiro, especialmente o Ceará, como um protagonista dessa transformação. A Europa enfrenta um problema relacionado ao preço da energia renovável que moverá a indústria do hidrogênio verde. Na comunidade europeia, o preço atual inviabiliza os altos investimentos necessários ao êxito dos empreendimentos. O Ceará já possui mais de 30 memorandos de entendimento com o propósito de produzir hidrogênio verde no Complexo do Pecém. A expectativa é que, até 2050, a agenda de desenvolvimento econômico e de internacionalização no Estado estejam completamente modificadas.

O Otimista: Qual o papel do CIN para a indústria e, principalmente, inovação no Ceará?

Karina Frota – Na parte empresarial, principalmente através da disseminação da cultura da internacionalização, capacitação, consultoria em exportação e importação, participação efetiva em feiras e missões internacionais com o foco em captação de oportunidades de negócios. Além disso, a área de inteligência comercial do CIN, com o apoio do Observatório da Indústria da Fiec, elabora estudos específicos com informações estratégicas que ajudam a planejar o processo de internacionalização da empresa. As análises apoiam a tomada de decisão dos empresários para maior assertividade comercial na exportação e/ou importação.

O Otimista: Também há um fortalecimento de pautas liadas à participação das mulheres no âmbito do comércio exterior…

Karina Frota – É fato que as mulheres trouxeram mudanças significativas no ambiente de trabalho e das instituições. Desde coisas simples, como um ambiente mais humanizado e organizado até a otimização do tempo e redução de erros. É necessário ter disponibilidade para aprender novas habilidades profissionais. Liderar, ter espírito de equipe, criatividade, boa comunicação. As mulheres possuem características importantes para cargos de liderança, além do senso crítico aguçado, habilidades especiais de se relacionar. Na área internacional, as mulheres dominam os escritórios de comércio exterior e de logística. O recente programa Mulheres Globais, realizado pela Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (ApexBrasil), foi criado para promover o e-commerce como estratégia de expansão e internacionalização, desenvolver competências em gestão e marketing digital, além de definir proposta de valor e modelos de negócios com foco no comércio eletrônico internacional. As empresárias participantes foram habilitadas para atuar no comércio virtual. A iniciativa potencializou o empreendedorismo feminino.

O Otimista: Nesse contexto, quais os principais desafios do Brasil?

Karina Frota – O Brasil segue a tendência global de promover diversidade e inclusão, especialmente nos conselhos empresariais. Ainda há muito trabalho a ser realizado, mas o mundo muda em uma velocidade bem acentuada. Quando se trata de concorrência profissional envolvendo cargos, existem distinções consideráveis entre homens e mulheres. No entanto, a representação das mulheres no mercado de trabalho dar passos expressivos a cada ano. Evolução visível nas áreas de gestão e liderança. Barreiras de gênero e aspectos relacionados as condições salariais, são desafios permanentes que avançam pelos esforços de executivos que fazem a diferença.

O Otimista: Quais os projetos do CNI para este ano?

Karina Frota – O Centro Internacional de Negócios da Fiec tem como missão promover a internacionalização das empresas cearenses, oferecendo soluções e serviços para facilitar a atuação das empresas no mercado externo. Fomentamos a geração de negócios internacionais, contribuindo para o desenvolvimento econômico do estado através de parcerias com instituições públicas e privadas. Para 2024, é estratégico fortalecer essa estrutura ágil, moderna, tecnológica, inovadora. Uma estrutura completa para apoiar as trocas econômicas, políticas e culturais entre o Ceará e as nações. Nosso objetivo é disponibilizar para a empresa um ambiente a fim de ajudar o empresário cearense no desenvolvimento de um fluxo de negócios internacionais sustentáveis. Um ambiente em que seja possível motivar a troca de informações e a transferência de tecnologia, identificar fornecedores e mercados, além de reforçar e expandir as parcerias com entidades congêneres a nível internacional. A nossa expectativa é transformar a Área de Inteligência Comercial do CIN em um ambiente totalmente digital, através da organização da coleta de dados gerados e análises profundas para gerar informações reais e concretas que servirão como base para as tomadas de decisão de uma empresa. Além disso, é importante fortalecer as relações bilaterais do Ceará com países prioritários, estimulando, ainda mais, a participação dos empresários cearenses nos negócios internacionais.

O Otimista:  Quais foram as principais ações do CIN em 2023?

Karina Frota – O CIN apoiou as empresas cearenses que inseriram a internacionalização como estratégia empresarial. Através de uma posição de “agente indutor”, incentivou empresários de pequeno, médio e grande porte a acreditarem no seu potencial, a assumirem novos desafios e buscarem o mercado externo, como a grande opção de crescimento e de melhoria tecnológica. Foram articuladas ações de promoção comercial, abertura de mercados estratégicos, promoção comercial junto às entidades, eventos e facilitação de atividades empresariais. O CIN atuou na identificação de oportunidades de negócios, assumiu a função de órgão propositor e executor de atividades e projetos que contribuíram, asseguraram e aperfeiçoaram a competitividade e o crescimento do comércio exterior do Ceará.

O Otimista: Você acredita que há uma melhora nos números da balança comercial cearense?

Karina Frota – O Estado registrou exportações de US$ 2,03 bilhões e importações de US$ 3,16 bilhões, resultando em um déficit comercial de US$ 1,12 bilhão. No entanto, isso representa uma melhoria de 56% em relação a 2022. Dentre os setores, o ferro fundido, ferro e aço lideraram as exportações, apesar de uma redução anual, enquanto os combustíveis minerais tiveram a maior queda nas exportações. Nas importações, a maior diminuição foi também nos combustíveis minerais, enquanto houve um aumento significativo nas importações de ferro fundido, ferro e aço. O Ceará encerrou o ano de 2023 ocupando a 17ª posição no ranking de exportações do Brasil, contribuindo com 0,6% do total das exportações nacionais, uma leve diminuição em relação ao ano anterior. No que tange às importações, o estado representou 1,3% do total brasileiro, evidenciando também uma queda na sua participação no cenário nacional. Regionalmente, no Nordeste, o Ceará se manteve como o quarto maior exportador, com 8,2% das exportações da região, e manteve a posição nas importações, com 11,8% do total regional.

O Otimista: Qual a importância de ações voltadas para a exportação de micros e pequenas empresas?

Karina Frota – No Brasil, assim como na Itália, parte considerável do setor industrial é composto por micros e pequenas empresas. No entanto, a acentuada diferença entre as duas realidades é refletida na atividade exportadora das empresas desse porte. As empresas italianas, especialmente as MPEs, exportam muito. Bancos europeus, especializados nesse monitoramento, afirmam que 26 das 100 marcas de luxo mais importantes do mundo são italianas. Tais marcas, sozinhas, representam mais de 15% do volume de negócios de toda a indústria. As empresas italianas se prepararam por muitos anos. As micros e pequenas empresas da Itália conseguem ser competitivas. Além da gestão profissional, metodologias de trabalho estratégicas e política de boas práticas para a industrialização, transformaram a economia do referido país. Na Itália, há uma cultura exportadora entre as empresas. A exportação faz parte do projeto de negócios desde o início das operações.

O Otimista: Como está esse cenário no Ceará?

Karina Frota – No Ceará, a internacionalização é uma estratégia desafiadora para os micros, pequenos e médios negócios. Para apoiá-los a percorrer esse caminho e impulsioná-los ao mercado internacional, ofertamos diferentes serviços de apoio à internacionalização. O CIN oferece um portfólio de serviços diversificados, eficientes e pertinentes que atendam a empresas em diferentes estágios de internacionalização, desde a preparação estratégica, prospecção de mercados, negociação comercial e elaboração de documentos para exportação. Empresas em processo de internacionalização demandam distintos serviços que possam promover a qualificação do negócio, a identificação de mercados e clientes, o acesso facilitado a mercados internacionais e a adaptação de produtos com as exigências dos mercados-alvo.

O Otimista: De que forma o saudoso Eduardo Bezerra, ex-presidente do CIN, com quem você trabalhou por anos, contribuiu para sua experiência profissional?

Karina Frota – Uma consideração importante: o doutor Eduardo Bezerra não só contribuiu com minha experiência, ele foi o responsável pela minha formação e de toda uma geração no Centro Internacional de Negócios da Fiec. Um mestre, um conselheiro e, principalmente, um grande amigo.

 

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