Opinião

Velhaco – Totonho Laprovitera

Na língua portuguesa, rica em substantivos e adjetivos, o termo “velhaco” é popular, fácil, curto, forte, direto e possui um bocado de sinônimos. Velhaco é  uma pessoa desonesta, enrolona, enganadora, mau pagadora, e por aí vai. É  aquele caloteiro, cheio de malandragem, metido a espertalhão. Interessante é que o velhaco, na maioria das vezes, tem condições de honrar com suas dívidas mas escapole delas, inventando desculpas para não pagar a quem deve. 

Falando nisso, Franklinberg deixou de andar pelo bar do “seu” Euliclêncio, bem ali, perto da linha do trem. O motivo arrazoado era a volta de um simples cheque pago na conta de duas geladíssimas cervejas e cinco fichas de sinuca. Ora, se tinha uma coisa que “seu” Euliclêncio não perdoava de jeito nenhum em seu bar, era conta não paga. Portanto, o cheque do Franklinberg foi devidamente pregado no quadro de honra dos velhacos do lugar. 

Como notícia ruim voa e se espalha é ligeiro, Franklinberg era informado o tempo todo sobre a existência do tal cheque no Euliclêncio. Azucrinado com tal situação, ele pediu ao amigo Janiel o obséquio de ir ao intolerante estabelecimento para efetuar o resgate daquela mal sucedida ordem de pagamento. 

Sem muito tempo, avexado que só, Janiel chegou no Euliclêncio, abancou-se no apoucado e lotado salão, chamou o garçom, pediu uma cerveja, duas, três, criou coragem e solicitou a conta. 

E por favor, some à dolorosa o valor daquele cheque de tantos poucos reais – estendeu-se.  

Patrão, aqui, resgate de cheque, só com gaita viva, em espécie! 

Taqui, escutando a conversa… – folheando as bem contadas cédulas. 

Grana pra lá, conta cá, o garçom foi ao quadro de honra, arrancou o cheque e entregou ao Janiel. Daí, o grande silêncio que assistia aquela cena foi desmantelado quando Janiel, já na beira da mixuruca calçada, indo embora, foi saudado em coro pela canalha: – “Já vai, né, velhaco?! Pensava bem que a gente não tava vendo, nera?!” – e a vaia comeu de esmola! 

Já o amigo Chaparral me telefonou contando que, para preparar uns salgadinhos, um vizinho dele lhe tomou por empréstimo um botijão de gás de 13 kg e, babau, não lhe devolveu mais. “Pelo visto, o velhaco tá só me cozinhando e fritando a minha confiança”, comentou o bom e paciente Chaparral. 

No mais, como dizia o escritor, filósofo e político Marquês de Maricá (1773-1848), “os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito”.

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