Opinião

Vando Figueirêdo e Fernando França refletem sobre o Apocalipse

Desde 2017 os curadores Mirosław Rocheckka e Kazimierz Rochecki vêm reunindo diferentes posições artísticas sobre os fragmentos do livro bíblico do Apocalipse de São João. O resultado culmina na monumental exposição “Sinais do Apocalipse”, no Centro de Arte Contemporânea da cidade de Torún, Polônia, onde participam 177 obras de 93 artistas da Polónia, Dinamarca, Eslováquia, Ucrânia, Lituânia, França e Brasil. As obras criadas referem-se a versos apocalípticos específicos, e foram filtradas pela sensibilidade artística de cada um dos autores, respeitando suas leituras, diferenças culturais e influências das tradições religiosas de suas origens. Vando Figueirêdo e Fernando França têm ambos um longo histórico de residências artísticas vividas na Polônia e, em 2019, aceitaram o convite dos curadores – sendo eles os únicos artistas de origem não europeia do projeto.

Fernando França apresenta um vídeo elaborado a partir de um autorretrato de sua série Eu Medonho. O artista buscou trazer para a leitura apocalíptica a noção do livre arbítrio: “Nesta série eu exploro os limites entre bestialidade e humanidade. A figura central que se apresenta em meio ao caos, embora contaminada pelo evento, e assim quase toda transmutada em uma criatura bestial, ainda guarda uma porção humana. E é essa porção que olha para o espectador, reverberando seu desconforto e mal-estar, mas ao mesmo tempo buscando reumanização e reconstrução”, comenta Fernando França sobre sua obra.

Vando Figueirêdo, por sua vez, produziu uma pintura que teve como inspiração os textos do livro Apocalipse, onde narra-se a visão sobre a chegada na terra das duas bestas em um tempo futuro. “Em uma linguagem estética neoexpressionista, interpreto e apresento aos espectadores as bestas descritas por João, uma em forma de um tigre com sete cabeças e a outra em forma de um cordeiro com chifres”, explica o artista.

A abertura, marcada inicialmente para o mês de abril, teve que ser adiada para o dia 12 de maio de 2020, devido às medidas de contenção da pandemia da covid-19, e nasce em um momento de importante entrelace temático com a situação global. Um ser microscópico e invisível abala o mundo e evidencia nossa falta de confiança na ordem e hierarquia dos valores estabelecidos. Ao mesmo tempo, a catástrofe e a alegoria do fim do mundo são colocadas em perspectiva filosófica, revelando paradoxos existenciais e denotando a fragilidade da nossa civilização. Seria uma espécie de prenúncio, como pregou o apóstolo em seu famoso livro? 

Você pode conferir a extraordinária “Sinais do Apocalipse” em vídeo e foto no site do Centro de Arte Contemporânea da cidade de Torún: csw.torun.pl

 

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