Opinião

Vaia ao Sol – Totonho Laprovítera

Por Totonho Laprovítera
laprovítera@ootimista.com.br

 

A Chiquinho Aragão.

É o tempo de chuva,

é o bonito do céu

É pintura de cinza

sobre o amarelo do sol

A vaia é um sinal de desagrado. Comumente dada de jeito debochado e arrastado, é uma manifestação para demonstrar desaprovação por alguém ou alguma coisa. Também serve para mangar, quer dizer, para avacalhar qualquer fuleragem.

Alguns dizem que a vaia surgiu na Grécia Antiga. Não sei se foi. Agora, se tiver sido mesmo por aquelas bandas, não duvido nem um tiquinho que ela desenvolveu-se no Ceará, onde dia de chuva é tido como tempo bonito e alegre.

Cá pra nós, a nossa vaia é patrimônio cultural imaterial cearense. De inconfundível sotaque popular, é uma das nossas mais fortes características de expressão, chegando até a servir para nos reconhecermos em terras alheias. Segundo o professor Gilmar de Carvalho, “falta uma pesquisa profunda sobre essa vaia, mas há indícios de que o grito é oriundo de tribos indígenas da região cearense”.

Pois bem. Uma história que escuto desde menino véi é a do dia em que nós, cearenses, vaiamos o sol.

Era janeiro de 1942 – em plena Segunda Guerra Mundial, ó? – quando na então adolescente Fortaleza, com seus 180 mil habitantes, rogava-se por chuva. O Ceará vivia uma de suas mais brabas secas e todos pediam para que o escaldante sol desse uma trégua, pelo menos, por uns mixurucas dias. Daí, no dia 30, eis que o tempo começou a se fazer bonito pra chover. Avexadamente, as brancas nuvens se encorparam bem abaixo do já acinzentado céu. Aos ventos, na Praça do Ferreira, as pessoas se amontoaram festivamente para dar as boas-vindas a tão esperada chuva.

Mas de repente, para decepção geral da galera, tudo começou a mudar. Antes que relâmpagos e trovões espalhassem a tal precipitação, aquele tempo foi enfraquecendo, murchando, até se desmilinguir. Aí, todo se enxerindo entre as grávidas nuvens, mais metido do que pau de lata, atrevidamente raiou o chispante sol! Ora, não deu outra, uníssono, do tamanho dum bonde, o bravo povo lascou-lhe uma baita duma vaia!

Pois é, aquela vaia ao sol tatuou a pele trigueira da cultura popular fortalezense e essa história virou um bom exemplo da bem-humorada irreverência da gente alencarina.

Assim, fazendo a minha parte para que a Cultura do Ceará Moleque dure uns mil infinitos, eu já estou é treinando para concorrer no próximo Concurso de Vaia Cearense: – Ieeeeeiiiii!..

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