Opinião

Uma visita ao museu e o novo normal – Aldonso Palácio

Vista da instalação Guernica in Sand, na exposição “Li, Gifts and Rituals” de Lee Mingwei, Gropius Bau, Berlim. Foto Aldonso Palácio.

Após mais de dois meses em casa, finalmente pude sair para ver uma exposição em um museu. Em Berlim, paulatinamente desde o dia 6 de maio, algumas instituições começaram a reabrir suas portas. No dia 11 de maio reabriu o Gropius Bau, um dos maiores templos públicos dedicados à arte contemporânea na Alemanha. Todo o mundo da arte está de olho, pois a mostra tornou-se uma espécie de piloto de como os museus de todo o mundo podem esperar funcionar após o término de seus respectivos lockdowns. Em cartaz, uma trajetória das últimas décadas do trabalho do artista taiwanês Lee Mingwei, que estava pronta desde meados de março.

Lee Mingwei é conhecido por suas instalações e performances que são ativadas pelo espectador. O desafio de integrar medidas de higiene e distanciamento torna-se ainda mais delicado. O museu mantém a bilheteria fechada, é obrigatório comprar o ticket online para o dia e janela de tempo específico para sua entrada – assim os visitantes são identificados, evitam-se filas e os bilhetes com código QR e são escaneados à distância. Uma vez dentro, o uso de máscara é mandatório. A vigilância, reforçada em número, trabalhava extra cautelosa – a regra é um metro e meio de distância para o outro e a capacidade de pessoas por sala é reduzidíssima. Isso causa pequenos gargalos entre uma sala e outra, onde é necessário aguardar o controle de contagem. Fluxos de direção única são delimitados, inventar o seu próprio percurso ou voltar para a sala por onde já se passou causaria um incidente de segurança. Nos bancos de descanso e contemplação, onde antes sentavam 4, agora só uma pessoa por vez. Na instalação/performance Sonic Blossom, uma cantora lírica performa uma canção de Schubert por de trás de uma folha de acrílico montada sobre rodas, que separa ela dos visitantes. Assim como essa, percebiam-se várias outras pequenas recodificações das obras para atender às novas precauções. 

No átrio, a gigantesca instalação Guernica in Sand me lembravam que as coisas podem ser bem mais sinistras. Neste “novo normal”, se por um lado há abundância de novas regras e cuidados, por outro há o privilégio do espaço e tranquilidade para apreciar a arte. No final das contas, a experiência teve mais momentos prazerosos do que pude imaginar. Talvez pelo simples fato de poder voltar a frequentar estes espaços, ou talvez pelo fato de que nós nos reprogramamos de maneira incrivelmente rápida à novas situações. 

 

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