Estamos no bairro berlinense de Neukölln, em um escondido átrio interno de um antigo complexo arquitetural fabril que hoje abriga ateliês e escritórios. É um destes espaços que define a fama de Berlim como um grande centro criativo. Lá do alto do quinto andar, entre ateliers de criação de cerâmica, moda, marcenaria e bicicletas, trabalha o artista alemão Hendrik Czakainski (1979).
Czaikinski tem formação técnica em marcenaria e sua incursão no mundo da arte se deu de forma relativamente tardia. Suas obras têm chamado a atenção de curadores e colecionadores, mostradas em feiras e em importantes exposições institucionais com igual sucesso.
O artista constrói relevos esculturais que representam visões aéreas de assentamentos urbanos e instalações industriais distópicas. A destruição e o flagelo vêm à tona – vazamentos nucleares, catástrofes naturais, guerras, pandemias. São paisagens que lidam com a noção do antropoceno, que traduzem os excessos negativos da rampante escalada da nossa civilização. A perspectiva aérea, o distanciamento do observador em relação ao problema, permite ampliar novas correlações que a “perspectiva humana” às vezes nos nega.
Sua pesquisa parte muitas vezes da observação das mega-cidades asiáticas, mas não pretende representar nenhum lugar específico. Poderia muito bem ser uma favela no Brasil. Seu trabalho inicia-se no desenho, na composição e estudos dos volumes e relações entre os espaços preenchidos e vazios. Suas maquetes são criadas com madeira, papelão e concreto e depois são pinceladas ou pulverizadas com tintas industriais e óxidos em pó. Elas podem ganhar dimensões monumentais. Os títulos das obras às vezes são números que remetem à população que caberia ali na sua paisagem. A estética criada por Hendrik Czakainski evoca uma certa beleza. Ele se permite esculpir o lado fascinante da devastação, porém sem negar seu lado mau – algo que caminha no limiar entre a ruína e o renascimento.
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