Opinião

Uma impressão da Bienal de Berlim – Aldonso Palácio

A 11ª edição da Bienal de Berlim é fruto do trabalho de um grupo de curadores latino-americanos, dentre eles a paulistana Lisette Lagnado. Com o mote ‘a fissura começa por dentro’, a mostra está espalhada em quatro diferentes localidades na cidade e questiona e atravessa temas como a figura da Igreja, o papel do patriarcado e o nacionalismo. A participação brasileira é recorde na edição. Dentre as obras chamou-me a atenção a visceralidade das instalações-pinturas de Pedro Moraleida Bernardes, artista de Belo Horizonte que teve sua vida interrompida aos 22 anos de idade. As obras da série ‘Faça você mesmo sua Capela Sistina’ (1997-98) estavam dispostas como uma grande altar de adoração em formato de cruz ou candelabro.

Vista da obra de Pedro Moraleida na 11a Bienal de Berlim

Durante sua breve vida, encurtada por seu suicídio em 1999, Pedro Moraleida produziu um prolífico trabalho, composto de pintura, escultura, textos e partituras musicais. Fortemente influenciado por Arthur Bispo do Rosário, o artista infundiu seu trabalho com uma figuração escatológica e plasticidade visceral. Seu cânone artístico girava em torno de reencenações de passagens bíblicas – figuras isoladas sitiadas por criaturas ameaçadoras com feições de répteis ou insetos. As imagens abundam atos sexuais, que não parecem prazerosos, e sim violentos e mutilantes. Textos rabiscados em seus desenhos, como “Quem e o quê devemos louvar”, ressaltam sua mistura niilista de imagens do sagrado e do degradado – articulando ainda mais sua gramática de angústia, indecência e desinibição. 

A 11ª Bienal de Berlim denota uma forte teor crítico e político em relação à colonização do pensamento e estrutura da cultura europeia. A lista, formada por artistas relativamente desconhecidos do circuito, aprecia o artista ativista, que tem uma carga social e vivência naquilo que tematiza em sua obra. Não necessariamente uma mostra fácil e bela, a Bienal pretende romper com estruturas vigentes, pois é só assim é que se pode dar espaço para alguma coisa nova.

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