Opinião

Um possível guia do andarilho das artes de Fortaleza – Aldonso Palácio

Última sexta-feira, o dia começou com a visita ao ateliê de Cadeh Juaçaba no edifício Palácio Progresso, no centro da cidade, onde pude conhecer sua nova produção e pesquisa, passando por bandeiras esvaziadas de seus conteúdos. Ao mesmo tempo também assistíamos ao tocante evento online organizado pela Galeria Multiarte cujo tema era a memória aos feitos dos grupos de estudo da galeria em homenagem à Bia Perlingeiro. No centro aproveitamos para ver duas exposições.

A primeira parada foi no Sobrado Dr. José Lourenço para conferir a exposição de pinturas de Artur Bombonato, que continuaram a me incomodar com suas imagens distópicas mas ao mesmo tempo tão reais e possíveis. Depois fomos ver o Salão de Abril na Casa do Barão de Camocim, um cenário fantástico onde a arte está inserida respeitando os elementos arquitetônicos históricos do local, que está muito bem preservado. No mais longevo e importante espaço de legitimação da arte cearense haviam muitas conversas sobre questões de gênero e corpo, mas na cabeça ficou a grande gravura botânica de Cecília Bichucher, a pintura em grande formato de Arivânio Alves com impressões indígenas de sua terra natal Quixelô e a série de fotografias de Yuri Juatama que jogavam um olhar diferente e colorido para a paisagem e habitantes do bairro Serrinha.

Após almoçar umas empanadas argentinas com chimichurri no José Bonifácio, seguimos para conhecer a Ópera Galeria em seu recém-inaugurado espaço na Aldeota. Leonardo Leal nos apresentou sua atual seleção de nomes do cenário nacional das artes provenientes de parcerias com galerias paulistas, a sala especial dedicada a Francisco Delalmeida, além de sua curadoria de arte cearense da nova geração. A sorte do acaso nos trouxe a presença do próprio Delalmeida, onde numa mesa no quintal ouvimos emocionantes relatos de quando ele chegou em Fortaleza, fugido de Crateús, aos 15 anos de idade.

O roteiro terminou onde começou, no Palácio Progresso, dessa vez num encontro no ateliê de Sérgio Gurgel, onde o incenso indiano e suas potentes obras quase que sufocavam, mas de uma forma boa. Vi sua recente produção para sua exposição individual “Antessala”, que está prevista para abrir dia 16 de janeiro de 2021 no Sobrado Dr. José Lourenço. 

As dinâmicas da arte em Fortaleza mudaram de três anos pra cá. Existem mais atores no circuito comercial, novos curadores despontando, novos escritores e jornalistas interessados. Sinto uma vontade do público de descobrir a arte que é produzida aqui e a reconhecer e valorizar certos nomes locais. O dia me deixou feliz por saber que o circuito das artes visuais encontra-se dinâmico, apesar do ano que tivemos. Um belo presente de Natal! 

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