Opinião

Um adeus a Sergio Pinheiro

Sérgio Pinheiro (Jaguaribe, 1948) era um persona artística, poeta, cantor e compositor, colega de turma de Aluísio Carvão, companheiro de quarto de Belchior, aluno de Deleuze, integrante da Massafeira, desenhista, gravador e escultor. Mas o que ele amava mesmo era a pintura, e seguiu a vida pintando aquilo que o tocava e vivia, indo do abstrato geométrico formal ao naïf, caracterizando diversas fases na sua obra. 

Conheci Sérgio Pinheiro por intermédio do artista Wilson Neto, que me acompanhou na primeira visita ao seu ateliê. Ali na sala de seu apartamento ventilado no bairro Papicu me chamaram atenção pela primeira vez sua série “Os Ambulantes” e suas caixinhas policromadas mais recentes, que ele chamava à época de “Transformers”. Retornei uma segunda vez na companhia do artista Eduardo Frota para um mergulho mais aprofundado na obra de Sérgio. A conversa passou por sua época de estudo e trabalho na Europa, suas referências de Mondrian e culminou com a descoberta de uma série de pinturas monocromáticas abstratas da década de 1990 – em repetidas e rápidas pinceladas ele jogava com a opacidade da tinta e a luz do papel como em uma retícula gestual.

Numa terceira visita, Sérgio Pinheiro me levou ao seu depósito na garagem do prédio, cheio de tesouros empoeirados. Lá o ajudei a desarquivar uma raridade, uma de suas caixas feitas em Paris em 1982, a maior delas que havia restado, a qual ele me confiou para uma limpeza e restauração da moldura. 

A série das caixas, que ele produziu continuamente desde a década de 80 tratam do paralelismo e plasticidade acidental que as facas de recorte de embalagens de papelão industriais traçam com os movimentos abstrato-geométricos europeus do começo do Século XX, intercalando a noção do “ready made” de Duchamp e a pintura em cores primárias e chapadas do neoplasticismo. O que difere esta série das outras é que, para além de mesclar a pintura e escultura, Sérgio pisou na seara da arte conceitual, criou uma ideia de desdobramentos visuais infinitos, de certa forma inserida no pensamento do nouveau réalisme francês. 

Sérgio Pinheiro faleceu nesta segunda 17 de maio, aos 72 anos, após longa luta contra o câncer. 

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