Opinião

A maioria dos restaurantes utiliza a arte para decorar suas paredes. Outros fazem de seu espaço um salão expositivo ou galeria temporária, um jogo com o mercado de arte. Poucos, porém, fizeram em Fortaleza o que o recém inaugurado Mangue Azul fez – constituir uma coleção própria, curada em diálogo visual e poético com a história dos donos e o propósito existencial do restaurante. É a arte em seu melhor, com peso e arrimo de coleção em processo, livre e coesa ao mesmo tempo, capaz de tocar por si só e constituir novas narrativas pelas lateralidades propostas no ambiente. 

A atenção especial dada ao acervo do restaurante reverbera em seu website, onde o seu catálogo de obras de arte é exposto e devidamente comentado. A franco-brasileira Dominique Jardy (vide Copacabana Palace) assina o grande fresco no salão principal. O acervo de artistas cearenses é composto por obras de Wilson Neto, Cecília Bichucher, Annelise Grieser, Vera Sampaio Dessart, Nícia Bormann, além de artesanato de qualidade, como a renda renascença e gigantescos lustres de escamas de camurupim de Francisco Antônio Berulim.

O destaque vai para “Maré Alta”, o painel de quinze metros quadrados idealizado por Tulio Paracampos sob encomenda para o local. Tulio pensa suas áreas em modulações – como em um caderno quadriculado, ele expande suas composições geométricas. A geometria, por sua pureza matemática e razão universal, possui algo de sagrado e espiritual, pois compartilha a centelha dos códigos geradores de tudo o que há entre o céu e a terra. O poder de síntese de sua interpretação gráfica faz que sua composição, que parte de apenas sete módulos distintos, vire maré, peixe, correnteza, onda – natureza em constante transformação. A volumetria proporciona belas brincadeiras de luz e sombra, resultando em novas camadas de interpretação.

Visite

Restaurante Mangue Azul

Rua Professor Dias da Rocha, 987

cap. André Bichucher, chef Marco Gil

www.mangueazul.com.br