Opinião

Tripalium – Totonho Laprovitera

“O trabalho é o alimento das almas nobres.” (Sêneca)

Pra começo de conversa, ofício é qualquer atividade de trabalho exercida por alguém, que requer algum grau de técnica e habilidade específicas. E o trabalho, que sempre moveu a sociedade e a civilização, ao longo do tempo mudou e se transformou, conforme às necessidades de cada momento em cada cultura.

A história do trabalho é tão antiga quanto a do homem. Em várias épocas elas se misturam, mas nem sempre trabalho foi sinônimo de tortura, como a etimologia da palavra revela. Vindo do latim, tripalium, instrumento de tortura, decorrendo do adjetivo tripális, que significa sustentado por três estacas ou mourões, o termo tripaliare, influenciou vários idiomas, entre eles o português trabalhar, o francês travailler, o espanhol trabajar e o italiano traballare.

Mas, ao longo dos tempos, o trabalho vem deixando de ser simples e encantador para se tornar sinônimo de sacrifício, o que é preocupante, pois essa atividade ocupa mais de um terço de nossas vidas. Agora, como diz o filósofo, “quem faz o que gosta, não trabalha”.

Aí lembro do Vovô Miguel me educando sobre o valor do trabalho, e a respeitar todos os profissionais. Contava-me que na Itália um gari batia no peito ao dizer do orgulho de ser um deles, e como seu serviço era bem feito!

Ontem, assisti a um vídeo onde uma empregada doméstica dizia ser considerada burra, por trabalhar em serviços domésticos. E quando falava de filosofia, economia e política, ou na situação atual do país, e revelava falar duas línguas, as pessoas estranhavam e perguntavam: – “Então, por que você faz isso?”

Ela respondia que era um trabalho que gostava e o sustento da sua família. E mais, disse que as pessoas a consideravam inferior. E emendou: – “Não existe subemprego a partir do momento em que você está fazendo uma coisa que outra pessoa não consegue. E não é porque ela não sabe. Ela pode não querer, não ter tempo, não gostar, ou ela pode não saber mesmo. Tem muita gente que não sabe e eu não soube por muito tempo: se um cara dirige um ônibus e você precisa andar de ônibus, ele está prestando um serviço que você precisa. Todos nós somos prestadores de serviço também. Você não tem porque achar que um emprego é melhor do que o outro.”

Parando por aqui, sobre disposição para o trabalho, dizem que “seu” Edvar perguntou ao filho Régis se ele nunca havia cogitado trabalhar. Beirando 37 verões, curtindo mais uma ressaca daquelas, Régis pensou, pensou, e com o pé na encardida parede embalou a velha rede e mudo fez o sinal de legal com o polegar. Aí, inquieto, “seu” Edvar, insistiu pra saber sobre qual atitude ele tomava diante do fato. “Eu reajo, papai, eu reajo…” – espreguiçando-se, bocejando respondeu.

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