Opinião

Três Marias dos Navegantes – Totonho Laprovitera

Mano Alencar, Totonho Laprovitera e Mino Castelo Branco – Três Marias dos Navegantes – 2023 – Acrílica sobre tela – 80 x 160 cm

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo. Perdeste o senso!” (Olavo Bilac)

Para começo de conversa, igualmente chamada de jogo do osso, arriós, bato, chocos, nécara, onente, telhos, e por aí vai, três Marias é uma brincadeira de origem pré-histórica, podendo ser feita de diversas maneiras. Uma delas é jogar uma pedra para cima e, antes que ela caia no chão, pegar uma outra. 

Mas falando em olhar para cima, Três Marias são estrelas da constelação ocidental de Órion, que permanece completa no nosso céu, durante toda a noite, apenas no verão. Agora, nunca é demais advertir: contar estrelas faz nascer verruga no corpo de quem as conta, diz a crendice popular.

Tornando à constelação, no centro de Órion existe três estrelas azuis, que podem ser vistas de qualquer lugar do mundo, quando se olha para o céu. Chamadas de “Mintaka”, “Alnilan” e “Alnitak”, as estrelas têm nomes árabes que significam, respectivamente, o “Cinto”, a “Pérola / Pedra Preciosa” e a “Corda”. De quebra, ainda são conhecidas como “Três Marias”, “Três Reis Magos” ou “Cinturão de Órion”. 

Assim, pelas estrelas os navegantes se orientam – muito bem antes do GPS e da bússola – adotando as constelações. Com suas posições no céu, eles identificam a latitude. Quanto à longitude, ela é apontada pela hora em que as estrelas passam pelo ponto mais alto do céu, o zênite. Assim, desde as primeiras navegações, as direções dos astros servem para identificar suas posições diante da terra, fazendo com que haja a ciência exata da distância dos locais, do posicionamento e da direção. 

Agora, a expressão popular “ver estrelas” expressa o sentir de uma dor muito forte; ficar atordoado, devido a um tabefe no pé do ouvido, por exemplo. 

Mas esticando a baladeira, as Marias que estavam ao pé da cruz de Jesus eram as mulheres que o seguiram desde a Galileia. Segundo a Sagrada Escrita, “estavam ali olhando de longe muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, servindo-o, entre as quais estavam Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu” (Mateus 27:55–56). 

Mas falando em Três Marias, além das que brilham no céu, guiando embarcações, refiro-me às dos navegantes de mares e oceanos. Aquelas incansáveis e cobertas de esperança, que esperam seus viageiros nos espalhados cais da vida. 

Por fim, a respeito de estrelas e mulheres, eu e mais dois colegas artistas – Mano Alencar e Mino Castel Branco – pintamos as “Três Marias dos Navegantes”, em homenagem aos 69 anos do Iate Clube de Fortaleza, em significação ao propósito apresentado em sua carta náutica: a cultura de navegar com arte. 

Pois é, as estrelas são o elemento fundamental da formação do Universo. 

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