Opinião

Tinindo – Totonho Laprovitera

“Somente o justo desfruta de paz de espírito.” (Epicuro)

Aconteceu em um bar da Gentilândia. No auge do boneco, com bate-boca pegando fogo e o tempo já quase fechando, tinindo, Carlinhos provocou Nelsinho: – “Ei, carne-de tetéu, teu candidato nem incha pro meu, ó?!” Injuriado, Nelsinho arregalou os olhos e com uma vontade medonha de abufelar Carlinhos, reagiu: – “Arre égua, mas tu é muito abestado mesmo! Se alui, fuleragem!” Aos gritos de “acunha” dos dadores corda, mais uma vez o arranca-rabo estava só começando.

Carlinhos e Nelsinho são velhos amigos, mas desafetos na torcida política, desde os tempos de quermesses do bairro, quando um era do partido azul e o outro do encarnado. Também desafinavam no futebol, pois um torcia pelo Ceará e o outro pelo Fortaleza. Quer dizer, ninguém sabia como é que essa amizade conseguia durar de tal maneira, com tantas arengas e discordâncias.

“Mas são mesmo dois felas da gaita”, chegou Manelão trovejando com seu vozeirão de taboca rachada, para acabar com leriado tão sem futuro. E emendou: – “Vocês dois merecem é um tabefe bem dado no pé-do-ouvido! Quem já se viu?! Vão cachimbar molambo! Vão encher o saco do cão com reza!” E se abrindo, a canalha tacou a vaia!

Pois bem. Nestes tempos, onde por questões políticas, as paixões afloram à pele dos divergentes sectários, lembro da época em que dois times de futebol lotavam o estádio e as torcidas se engalfinhavam, tingindo-se de suor e sangue na sofrida geral.

A rivalidade era tão grande, chega afetava a amizade pessoal dos mais fanáticos torcedores. Alguns até deixavam de se falar. Outros não, mas viviam um constante e medonho bate-boca de arenga!

Em cantiga de grilo, todos se intimavam. Em dia de jogo, tido como “Clássico-Rei”, aí era que a coisa pegava. As gozações já deixavam de ser inteligentes e bem-humoradas, para se tornarem apelativas e grosseiras. Com baixaria, confundiam com ódio o amor e as paixões pelos seus times.

De tirar do ramo, as brigas eram de foice no escuro! Uma guerra onde os insanos botavam pra moer! Vandalizando o que viam pela frente, faziam valer os seus mais primitivos instintos. Enquanto isso, por cima da carne-seca, os presidentes com suas respectivas diretorias se deliciavam nos camarotes – Tribuna de Honra! – comemorando o resultado da peleja e brindando o apurado da renda.

Das quatro linhas ao tapetão, espiando a bola rolar, cogitemos sobre nossos excessos e cuidemos para não nos tornarmos incautos “torcedores de geral”.

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