Opinião

Tete de Alencar revela segredos no provador – Aldonso Palácio

Cinderela Flash é um projeto foto-performático de longa duração da artista cearense Tete de Alencar (1964). Em cidades como Londres, Nova York e Paris, ela tinha como objetivo ser atendida nas boutiques de alto luxo e experimentar roupas de alta costura, um extenuante trabalho de convencimento frente aos olhares julgadores do staff da loja.

Uma vez dentro da cabine e com o vestido no corpo, ela se fotografa no espelho com uma câmera descartável – o flash bem na altura do seu rosto. Aqui o vestido não significa empoderamento nem desejo, mas algo opressor, um padrão inalcançável – no processo de vestir um “Versace” ela é lembrada o tempo todo que sua figura não pertence àquele lugar, que sua aparência não faz parte daquele universo e nem sua conta bancária comprará acesso ao clube.

A decepção e o desaparecimento do corpo feminino sob o vestido é revelada no click cru e verdadeiro. Finalmente a sós, trancada no provador, num momento de respiro e intimidade entre os artifícios que precisa inventar e manter para estar ali, Tete de Alencar nos apresenta o reflexo de uma mulher anônima objetificada pelo consumo. “O flash é o espaço onde toda mulher pode identificar e preencher”, ela arremata. O projeto Cinderela Flash já foi exposto no País de Gales, Espanha, Cuba e no Brasil, em São Paulo e Fortaleza.

Tete de Alencar é uma das criadoras do Far Few of Us (muito poucas de nós), um grupo de mulheres latinas, residentes em Londres, voltado à arte contemporânea e que orienta pesquisas, eventos e ações em apoio a discursos não-binários e descolonizantes. Participam, dentre outras, as artistas Patricia Tavares, Marcia Thompson, Andréa Rocha, Sylvia Morgado, Pauline Batista e a curadora Paula Terra.

mais

Conheça mais no Instagram: @t2dealencar, @farfewofus

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS