Opinião

Surrealismo, feminismo e natureza em Maruja Mallo – Aldonso Palácio

Maruja Mallo, série “Natureza viva”, 1942-43, óleo sobre compensado de madeira

Alguns meses passados após a visita à Bienal de Veneza, a memória decanta e algumas imagens teimam em não deixar a cabeça. A mostra principal “O Leite dos Sonhos”, formada por 90% de artistas do sexo feminino, para além da arte contemporânea, era cerceada de salas com respiros históricos, uma forma de reparação às algumas artistas que não tiveram seu lugar devidamente reconhecido na história da arte mundial. Numa destas salas no  Giardini estavam três pequenas e delicadas pinturas da artista espanhola Maruja Mallo (1902-1995). 

Ela é conhecida na Espanha como artista da vanguarda surrealista do período entre guerras da chamada “Geração 27”, da qual fazia parte também Salvador Dali, e é um nome incontornável quando se trata do movimento surrealista europeu de maneira mais ampla e revisada. Ela obteve grande sucesso internacional à época, frequentou as rodas vanguardistas de Paris e Nova York, e era apreciada pelo seu ativismo e personalidade marcante. 

Ativa no movimento antifascista, Maruja Mallo teve que se mudar da Espanha para a Argentina em 1936. Aos poucos foi deixando de lado seu passado surrealista. Lá ela pintou suas incrivelmente belas “naturezas vivas”, com cores vibrantes, padronagens e geometrias marcantes, e conseguiu retratar cenas irreais com desconcertante despreocupação. Flores e conchas, cada elemento da composição representa uma parte da anatomia feminina. A jocosa descrição de Dali sobre Mallo ressalta-a como uma mulher “metade anjo, metade marisco”. Ela somente retornou à Espanha em 1962, como uma desconhecida do mundo da arte em seu país. 

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