Tragando uma serrana cachaça, eu respiro o ar da serena e pura Guaramiranga. Espiando o sossego da mata, assisto aos sons da sinfonia da natureza. Como é boa a vida simples.
Aqui, no Sítio Quatro Águas, o tempo não se avexa, não. As horas são demoradas e acolhem a santa preguiça, que me inspira a cometer arte com todos os seus significados. Como é simples a vida de artista.
O riacho me segreda a razão de sua perene passagem. Eu matuto sobre os valores que nos levam a viver ou a existir. Com a espiritualidade de padeiro, a minha modesta e caseira receita mistura afeto com paixão, e dessa massa abrolha a hóstia do amor para nos alimentar a alma. E com um vinhozinho, então… Pois é, mastigado em paz, um dividido pedacinho de pão é muito melhor do que qualquer banquete de embuança.
Mas de surpresa um passarinho chega, pousa na mesa e abana meu braço com o triscar de suas asas ligeiras. E avoa leve não sei pra onde. Tomara que essa pequena ave volte e faça um ninho de inspirações no meu quengo.
Seguindo a prosa, ao meu lado, as páginas de um livro se desfolham ao vento. Aí, avisto o mapa da Itália. Paro na Calábria e sinto é saudade das águas do Tirreno. A miúda Tortora, meu berço de origem, pulsa em minhas veias! No paço da memória, a branca luz, entre o encarnado do sangue e o verde dos olhos da mãe natureza, é a flâmula que me mantém calabrese-nordestino.
Mais um trago da serrana e assungo: Se eu abordasse alguém dizendo seis números aleatórios, qual seria a reação da pessoa? Certamente me chamaria de doido. Agora, e se eu lhe dissesse que esses seis números correspondiam ao prêmio da Mega-sena, qual seria a reação dela? Trocando em miúdos, desse jeito eu discirno a arte: quando não é subjetiva, pode virar somente técnica.
Na subjetividade tudo é próprio e relativo ao artista. É o que cabe ao conteúdo de sua consciência. É a base de sua interpretação pessoal, mesmo não sendo apropriada para todos.
No mais, a visão crítica é essencial para a avaliação de qualquer produto, mormente o artístico. Tolices não agregam valores a qualquer história que possa conceituar uma produção artística. Igualmente a uma boa memória, que é fantástica quando seguida de inteligência, a criatividade espontânea transpõe as porteiras do imaginário inventivo.
Façamos valer a nossa criatividade para vivermos longe da mediocridade. Que Deus nos livre de azedarmos a rapadura da vida.
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