Opinião

Ser canhoto – Totonho Laprovitera

Certa vez, o poeta Drumond questionou: “E se Deus é canhoto e criou com a mão esquerda? Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.” Aí lembrei dos canhotos Alexandre o Grande, Aristóteles, Beethoven, Bill Gates, Chaplin, Da Vinci, Darwin, Einstein, Ghandi, Hendrix, Joana d’Arc, Machado de Assis, Michelangelo, Mozart, Napoleão Bonaparte, Newton, Paul McCartney, Picasso…  Chico da Silva, um dos nossos mais virtuosos artistas, também era canhoto. 

Pois bem. Muitas civilizações antigas acreditavam nas habilidades mágicas dos canhotos, capazes até do poder da cura. Em algumas, ser canhoto significava ser de boa sorte. Já na Idade Média – vixe Maria! – os canhoto foram duramente perseguidos! As mulheres então, coitadas, eram acusadas de bruxaria, baseado nos textos antigos que relacionavam o lado esquerdo ao pecado e à tentação.

Mas até pouco tempo, reparem só, os canhotos eram punidos e obrigados a trocar a preferência do uso de mão. Escrever com a “mão errada” era sinal de indisciplina. “Pedagogicamente, dificulta o aprendizado”, sentenciavam os arautos da educação. 

Assim, conta a história da humanidade, os canhotos foram vítimas de preconceito cultural, social e religioso. Desse jeito, a direita era a mão do nascente, que traz a vida, e a esquerda a do poente, que tira. 

Hoje, estudos científicos apontam que os canhotos possuem raciocínio mais rápido que os destros. Em alguns esportes eles são apontados como mais rápidos. No tênis, por exemplo, 40% dos atletas profissionais são canhotos.

Cá pra nós, quando criança, tenho pra mim que eu era canhoto de mão e fui “corrigido” no colégio. Até porque no futebol, atividade mais espontânea e lúdica em minha vida, eu sempre tive muito mais habilidade com o pé esquerdo. Portanto, falando comigo mesmo, eu me segredo matutando o que disse Mateus: “Que a mão esquerda não saiba o que eu fiz com a direita.”  

Agora, sobre o uso das mão, aprendi na boemia que só se deve pegar o gelo para o uísque com a mão esquerda. A não ser que o sujeito seja canhoto. Questão de higiene. Falando em boemia, os bonequeiros temem o tabefe de um canhoto. 

Pra terminar essa nossa conversa, certa vez, um inoxidável cidadão foi intimado a ir ao Instituto Médico Legal para o reconhecimento e liberação do corpo, de um suposto conhecido conterrâneo, que havia sido estraçalhado por atropelamento de uma carreta trucada, lá pelas bandas do Farol do Mucuripe. Seguindo rigorosamente os padrões científicos para identificação, ao ser perguntado pelo necropapiloscopista forense sobre duas características da vítima, com toda a seriedade, ele respostou: – “Era gago e canhoto.” 

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