Opinião

Rede, sonho e riso – Totonho Laprovitera

Não sei se vocês sabem, mas o maranguapense Capistrano de Abreu (1853-1927), um dos primeiros grandes historiadores brasileiros, que produziu ainda nos campos da etnografia e da linguística, escreveu grande parte de sua obra deitado em uma rede. Assim está lembrado no Museu do Ceará. 

Pois bem. Do mesmo jeito, já cometi muitos textos e escrevi dois livros deitado na minha velha fianga de algodão cru e varandas bem desenhadas. A diferença é que Capistrano escrevia à mão e eu ao computador. 

Mas mudando o rumo da prosa, contava Ariano Suassuna, que no seu entendimento “o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso”. Já Chico Figueiredo falava: – “Se lhe perguntarem brincando, responda sério. Se lhe perguntarem sério, responda brincando.” 

Sendo pescador de sonhos e de bem com o bom humor, eu procuro levar a vida imaginando e brincando. Imaginando coisas boas para todo mundo. Brincando a sério com a inteligência que nos faz sermos mais humanos e desse jeito, melhores. 

Sobre sonhar, uma vez conversando com o saudoso amigo e parceiro musical Sérgio Sá, deficiente visual desde que nasceu, perguntei: 

– Serginho, como você sonha?

– Do mesmo jeito que você sonha, Totonho, sendo com imagens diferentes – respondeu. 

Aí eu compreendo o sonho como uma experiência de distintos significados. Além de envolver aspectos culturais e religiosos, para a ciência é uma experiência de imaginação do inconsciente durante o momento de sono. Para Freud, os sonhos noturnos são gerados na busca pela realização de um desejo reprimido. 

Quanto ao riso, bem, eu acho que ele vai muito além da ação ou efeito de rir.  O riso espontâneo é a mais viva e livre expressão de alegria. Destaca o filósofo sertanejo Toim da Meruoca que, pesquisando sobre cachaça, achou muitos testemunhos de que ela é uma bebida que acende o bom humor e, logo, o riso. Seguramente, essa é uma das principais razões do gosto pela caninha. 

Fazendo uma analogia da diferença entre sarapatel e sarrabulho, o filósofo explica que sorrir é rir sem fazer zoada, só mostrando os dentes. O riso é aquela expressão que se estampa em uma circunstância cômica. “Os sábios ensinam que ‘o júbilo derruba todas as fronteiras’. Através do riso correto, transformamos empecilhos em oportunidades”, arremata Toim. 

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