Opinião

Precisamos falar sobre Jane Batista – Aldonso Palácio

Jane Batista nasceu em 1975 em Piripiri, Piauí. Reside em Fortaleza desde 1991. Trabalha com serviços gerais, tem o ensino médio completo, é mãe de três filhos e avó. Desde 2020 ela vem se dedicando à fotografia, onde utiliza exclusivamente a câmera do seu telefone móvel como ferramenta, seja para captura como para edição. A partir de experimentações com o autorretrato, de forma visceral e autodidata, ela inaugurou uma forma de expressão e um lugar de refúgio para suas fantasias, seus medos e sonhos. Para isso Jane Batista utiliza o seu corpo, apropria-se de objetos do seu cotidiano doméstico, de alimentos, de seu próprio filho (Anjo Batista), num jogo de revelação de sua realidade e de inúmeras possibilidades de si mesma. Para a artista isso seria um modo de não calar e de driblar julgamentos que recaem sobre vozes e corpos femininos, pretos e periféricos. O resultado exala sentimentos de emancipação e empoderamento. Seu olhar sensível também perpassa pela paisagem e personagens do litoral urbano, principalmente no bairro Vicente Pinzón, onde habita.

Dona de uma pulsão criadora inexorável, o imaginário íntimo de Jane Batista se equilibra entre fragilidade e força. Ela não planeja antes de começar um novo trabalho. Os objetos e adereços dão uma certa direção e o processo ocorre como uma sucessão de pequenos delírios estéticos, quase como uma performance. “Me sinto mais livre através das minhas fotos. Às vezes o resultado sai melhor do que eu pensava e isso, no processo, me emociona muito. Grito, dou gargalhadas ao ver o que eu criei”, fala a artista. 

Me arrisco aqui a fazer um paralelo entre o trabalho de Jane Batista com o de Letícia Parente (1930-1991), pioneira da videoarte no Brasil. O trabalho de ambas navega pelas múltiplas pressões da maternidade, do trabalho dentro e fora de casa, e foram realizados e experimentados dentro do ambiente doméstico. O cotidiano é chão fértil de ambas, assim como o corpo, os gestos, que fazem menção a suas próprias existências e da sociedade a qual pertencem. 

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