Opinião

Poético Motinha

A Gonzaga Mota.

Para melhor cuidar dos homens
Deus criou a amizade.

Não é à toa que a amizade tem sido considerada, pela religião e cultura popular, como uma experiência humana de vital importância, inclusive tendo sido santificada por várias religiões. Os evangelhos canônicos, por exemplo, falam a respeito de uma declaração de Jesus: “Nenhum amor pode ser maior que este, o de sacrificar a própria vida por seus amigos”. Salomão escreveu a sabedoria da amizade em seus Provérbios: “Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão”.

Pois bem. Um dos amigos mais poéticos que eu já tive foi o Motinha. Inteligente, bem-humorado e inteiramente de bem com a vida, ele era de uma disponibilidade sem igual, ao ponto de nunca ter se negado a interpretar canções de Ataulfo Alves – sabia todas de cor e salteado – quando ao telefone eu, insone, orava-lhe ao silêncio das desertas madrugadas. Com Motinha a gente podia contar a qualquer hora, pois sempre estava disposto a nos atender.

Mas certa vez foi ele que me telefonou para dizer que havia achado uns versos apaixonados, de amor escondido, coisa da imaginação de poeta fingidor. Aí, recitou: “Devolva-me os meus sonhos, mas guarde meus segredos”. Então, eu emendei: – Amigo véi, isso dá canção! Continuei a letra e pedi para Amaro Penna musicar.

SONHOS E SEGREDOS

“Devolva-me os meus sonhos, / mas guarde meus segredos / Esqueça meus pecados, / mesmos os mais banais

Da joia que eu lhe dei, / apague as iniciais, / mas, não diga, por favor, / que já não me ama mais

O medo que vivemos / ainda nos persegue / Mesmo sendo livres, / jamais nos pertencemos

Loucuras cometemos / e hoje entendemos / Vivamos o infinito / dos sonhos das paixões

Se somos um poema / musicado de amor, / sigamos o destino / que a vida escreveu

Aí, agora eu cobro: – Ei, Peninha, bora terminar a música?!”

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