Opinião

Pequenos vícios – Totonho Laprovitera

“Cuidado com a tristeza. Ela é um vício.” (Gustave Flaubert)

Na adolescência, mal chegado da infância, experimentei fumar cigarros e, a partir daí, passei a cultivar esse nefasto vício. Naquele tempo, era considerado bonito o ato de fumar e beber. As propagandas nos jornais, revistas, rádio e televisão eram as coisas mais charmosas do mundo! E tinha mais, nos anos 1970, o jovem que não fumasse nem bebesse era considerado careta e excluído das turmas ditas “bacanas” da cidade, assim, preterido pelos amigos e desprezado pelos olhos das meninas.

Sobre esse assunto, lembro de mim, perto lá de casa, na cantina do Milson, que era onde eu comprava cigarro BB a retalho, quando comecei a fumar escondido aos tenros 11 anos de idade. Olhando alguém bebendo, com os repousados cotovelos no balcão, eu pensava equivocadamente: – Um dia ainda chego lá… Não tardou muito e comecei a beber, batendo o centro com uma ligeira embriaguez de Biotônico Fontoura, lendo as revistinhas de histórias do Jeca Tatu!

Posteriormente, quando ingressei na faculdade, parei de fumar, mas, logo depois que me formei e comecei a trabalhar, voltei. A partir daí, foi um vai e vem sem fim de parar e voltar a fumar, chega me causava uma angústia danada pelas crises de abstinência que brigavam com a minha convicção dos efeitos maléficos do fumo. Ô peleja!

Sem dúvida alguma, eu era um fumante inveterado. Durante a semana, façam ideia, eu fumava duas carteiras por dia, quatro no sábado e quatro no domingo. Se bem que, no final de semana, eu era muito filado, mas mesmo assim, era muita fumaça!

Como eu me consumia… Pela manhã, antes do café, eram dois cigarros. Aí, eu passava o dia todo tendo motivos e razões para acendê-los. Após um cafezinho, um lanche, refeições, tensões, decisões, realizações… Acordava no meio da noite pra fumar! Era preocupante e eu não conseguia parar de fumar.

Mas, em 2003, lembro, após a uma tentativa com acompanhamento médico, aconteceu o seguinte. Num belo dia, eu estava na casa de amigos, quando acendi um cigarro e comentei que era o último que eu fumaria. E pois não é que foi! De lá pra cá, sem sofrimento algum, nunca mais fumei.

Hoje, quando acordo e encho os pulmões de ar puro, eu penso e digo: – Não me arrependo de nada do que fiz na vida. Mas, se tiver de escolher uma coisa para constar na ficha corrida do meu itinerário de existência, essa será a de ter fumado o tanto que fumei.

Quanto à bebida, bem, espero largá-la do mesmo jeito como fiz com o cigarro: sem sofrimento. E, não por igual motivo do que já contei, torno a pensar: – Um dia ainda chego lá… Afinal de contas, saúde é o que interessa.

 

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