Opinião

Papel Lápis Borracha – Aldonso Palácio

A artista cearense Tete de Alencar, que trabalha há muitos anos na Inglaterra, desenvolveu seu mais novo trabalho aqui no Ceará com a colaboração do fotógrafo Gentil Barreira. Tudo partiu de sua pesquisa sobre as “joias de crioulas”, que eram peças que escravas eram obrigadas a usar que imitavam as joias de padrão europeu de suas donas, demonstrando assim o poder de seus senhores. Tete criou desenhos destas joias em papel e recortou-as, iniciando um estudo de esculturas moles.

Instalação “Papel Lápis Borracha” de Tete de Alencar. Foto: Gentil Barreira

Quando ela passou a desenvolver o estudo em folhas de látex, inevitavelmente veio a lembrança de outro ciclo histórico brasileiro, que foi o ciclo da borracha, onde inúmeros nordestino, entre eles o avô da artista, emigraram para o Acre e viveram ali condições parecidas com a escravidão.

Os materiais e suportes que utiliza – celulose, madeira e látex – tem o um ponto de partida em comum, e pareceu lógico retornar suas esculturas ao seu lugar de origem – a árvore. Os recortes em látex branco mimetizam folhas de cacau, uma metáfora ao principal produto do ciclo escravagista baiano.

Em Londres a instalação provavelmente estaria destinada ao estéril cubo branco, mas no Ceará teve a chance de sair à natureza e enriquecer-se de desdobramentos e transformar-se em uma série fotográfica que irá ser apresentada em breve em Paris (Galerie Ricardo Fernandez) e Fortaleza (Ópera Arte Contemporânea).

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