Opinião

Os artistas Daniel Chastinet e Wilson Neto falam sobre Macedônia – Aldonso Palácio

Daniel Chastinet & Wilson Neto, A Tesoura, 2019-20, técnica mista sobre tecido, 162x172cm (Foto: JOOAO)

A exposição Macedônia, que abre no dia 19/11/21 no Museu Nacional da República em Brasília, é a primeira parada de Daniel Chastinet e Wilson Neto para mostrar o resultado da experiência artística realizada em 2019 no Programa internacional De Niro, Bitola, República da Macedônia do Norte. Este intercâmbio cultural se destacou pelo pioneirismo, visto que foi a primeira vez que artistas sul americanos participaram em tal projeto no país. Concebida como exposição itinerante, ela ainda passará por Fortaleza e retornará aos Balcãs em 2022. 

Aldonso Palácio – Como foi o processo de gestação dessa exposição que começou em Bitola e continuou em Fortaleza?

Wilson Neto – Aceitar o convite de ir à Macedônia do Norte sem consultar o Google foi impossível. Onde ficava Bitola? Quantos dinares equivalem a um real? Que idiomas se falam depois de tantos povos invasores e divisões políticas? Os Balcãs sempre me fascinaram devido aos filmes do Kusturica e da música de Goran Bregovic que já escutava há anos, mas o desconhecido sempre e mais fascinante, a nova técnica de pintura, a experimentação de novos materiais gráficos e a hibridez de parceiros nas artes são os atuais combustíveis que alimentam o meu trabalho. Talvez devido a tanta informação nova, estímulos de parceiros provindos dos quatro cantos da terra com seus gestos e orientações tão díspares e o bom entrosamento com o meu companheiro de viagem, o percurso urgia seguir, mesmo já tendo chegado a casa. Quem sabe devido a frustração de haver deixado pra trás tanta obra trabalhada no calor do momento tenha contribuído para que no primeiro reencontro com o Daniel, decidirmos juntos replicar a quatro mãos um relato gráficos dessa jornada, talvez a mais verdadeira das ficções.

AP – O que é “pintar a quatro mãos”?

Daniel Chastinet: É sobretudo se confundir, perder e reencontrar seu ritmo. Parece uma conversa comprida em que você acaba esquecendo daquele assunto que você queria falar, ou que simplesmente passou o momento de falar sobre aquilo. As cores estão em constante vibração, podendo mudar a qualquer momento. As formas que muitas vezes são a primeira decisão na pintura já não são certezas. Tudo isso vira um imenso desapego mas que se baseia em uma enorme confiança naquele outro par de mãos que está contigo. E acho que tudo isso culmina na decisão mútua de quando a tela está pronta, se isso já é delicado quando se está só vira uma grande conversa em quando em dupla.

Os artistas durante a residência artística em Bitola, Macedônia do Norte. (Foto: Keti Talevska)

AP – O que vocês levaram da experiência na Macedônia do Norte para o trabalho de vocês?

Wilson – Parte do meu trabalho é lidar com a contaminação das coisas pré-existentes e como elas interferem ora como um verniz do tempo, ora como cortinas que se abrem pro que virá. Ir até esse pedaço de terra onde todo caminho implora peregrinações, me sensibilizou muitíssimo para com os pequenos gestos de generosos desconhecidos, o exercício necessário de tolerância e envolvimento com o trabalho dos colegas artistas. E talvez constatei algo importante: a Arte agora me parece muito mais abrangente e permitida, muito além das bulas da academia, loas de curadores e imposições do mercado.

Daniel – Acho que coragem foi algo que voltou comigo da viagem. O tempo contado para produção tirou toda timidez que a tela em branco me gerava antes. Ver que começar é simples. E que um rascunho do caderno pode ser um ponto de partida da tela. Também observar os outros artistas trabalhando em conjunto com seus ritmos e técnicas diferentes me mostrou o quanto o processo é pessoal e como você deve respeitar e acreditar nele.

Serviço:
“Macedônia”, de Daniel Chastinet & Wilson Neto
Curadoria Aldonso Palácio
Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2, Brasília – DF)
Abertura: sexta-feira, 19 novembro 2021
Exposição: 19 novembro 2021 – 06 fevereiro 2022
Entrada gratuita

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