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O verde e a cidade

Por Bruno Ary

A cidade nasce da vontade das pessoas em estarem juntas. Portanto, o ambiente urbano é formado originalmente de algum grupo social com afinidades e interesse em comum, de estabelecer-se em determinado local e desenvolver suas atividades e prosperar com a família. O lugar escolhido para formar uma vila deve ter o clima mais agradável possível e sempre próximo a alguma fonte de água.

No caso de Fortaleza, o local escolhido não podia ser muito melhor. Planície costeira, com pequenos morros de onde pode se avistar ao norte o Oceano Atlântico, que nos traz brisa úmida constante, e de outro um conjunto de serras com densa mata atlântica de riquíssima em biodiversidade, de onde até pouco tempo atrás escorriam riachos que jamais secavam.

O ajuntamento desses riachos, ao chegar nas terras baixas, forma diversos brejos perenes e escoa por rios maiores, como o Cocó e o Pacoti, que cercam a cidade. Maracanaú, ao sul de Fortaleza, significa lugar ou riacho das Maracanãs, espécie de Arara, que voavam em bando por aqui, junto a inúmeras espécies, pelos ventilados palmeirais de Babaçú, entre Macaúbas, Catolés, Carnaúbas e Buritis.

Os mais antigos cearenses não tinham tempo nem interesse científico de olhar para bichos e plantas que por aqui abundavam. Orgulhosamente diziam e, muitos ainda dizem, com a recorrente frase: “quando cheguei, tudo aqui era mato”. Acontece que o mato não era simplesmente mato. Ao chegar e desmatar, como base fundamental do progresso, perdem-se a fauna, a alta umidade do ar, a estabilidade do solo, a água limpa, a chuva, o sereno, o orvalho e até os riachos.

Tanto tempo depois chega a hora de nos unirmos para trabalhar em replantar o que se perdeu, não só em Fortaleza, invertendo o ditado popular para “quando cheguei, não tinha mato, agora ta tudo bem verdinho”.

É tempo de plantar, com urgência, nas áreas públicas e privadas, não só gramados com paisagismo decorativo, mas pensar em projetos com conceitos modernos que se inspiram na antiguidade, como ecogênese, arquitetura biofílica, agrofloresta e tantas metodologias que impactam no clima e na socio-biodiversidade e, portanto, na qualidade de vida de todos. Assim, podemos resgatar uma identidade paisagística originalmente cearense, que é riquíssima, porém erroneamente associada a uma terra devastada e seca.

Bruno Ary é paisagista e diretor de Parques e Jardins da AMA/Sobral

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