Opinião

O que será do tucanato?

Emanuel Freitas é professor de teoria política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Por Emanuel Freitas

Neste domingo, o PSDB realiza suas tão esperadas e conflituosas prévias. O partido que hegemonizou, por duas décadas, a cena política nacional com seu anti-ethos, o PT, já não é mais o mesmo potencializador de votos desde a eleição de 2018, quando lideranças emergentes e estabelecidas deram seu aval ao bolsonarismo. Depois de um vergonhoso quarto lugar naquela eleição (com menos de 5% dos votos), restou a seus parlamentares dar o apoio necessário ao governo de Jair, sendo um dos mais fiéis ao governo nas votações de interesse deste. Antes disso, com as campanhas eleitorais de 2010 e de 2014, o partido já havia cerrado fileiras entres os próceres do moralismo político-religioso, tendo em seus quadros um dos proponentes da “cura gay”.

A escolha se dará entre dois governadores: o de São Paulo e o do Rio Grande do Sul. Eduardo Leite parece contar com o apoio de importantes nomes do partido, como o senador Tasso Jereissati, o que talvez, por isso mesmo, o torne mais palatável aos dirigentes; por sua vez, Dória, que não completou mandato de prefeito e, sendo indicado, não o fará com o de governador, mostra-se como não tanto confiável aos chefes partidários, trilhando mais um caminho seu do que do tucanato. O partido, registre-se não embarcou no que poderia ser seu maior trunfo: a entrada em cena da CoronaVac, o que, a julgar pelas revelações desta semana (das conversas de Leite com Luiz Eduardo ramos), parece ter sido partidário.

Ambos os nomes têm em sua trajetória do apoio ao bolsonarismo, vitorioso em 2018. O rompimento veio com a pandemia. Sem ela, ter-se-ia produzido? Ambos são alvos de chacotas homofóbicas pelas milícias digitais.

Assim, o que será do PSDB após o resultado deste domingo? É difícil saber ao certo, mas já não é mais aquele partido que reunia-se em restaurantes caros de São Paulo para, a quatro cabeças, decidir o nome do presidenciável. É um partido cheio de fissuras e que precisa mostrar, em seu escolhido, o apreço e compromisso pela “democracia” que estampa em seu nome.

No Ceará, também, o partido já não é mais a sigla hegemônica que havia sido na Era Tasso. Não há como esquecer a imagem da floresta de uma árvore só, evocada na campanha de 2010 por um dos líderes do grupo Ferreira Gomes para se referir a Tasso. Dá muita sombra, mas impede o nascimento de outras. Assim o foi.

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