Opinião

O dinheiro do capitão – Totonho Laprovitera

“Sem bebida não há diálogo.” (Valtinho Furtado)

Ando pela liverpudlian esquina do Vaval desde 1996, levado a convite de Raimundo Fagner, quando resgatava o principiar de sua história de vida, por lembrança do velho amigo Charutinho. De pronto, identifiquei-me com o lugar, onde, desde então, tenho exercido a arte das boas amizades. 

De lá pra cá, já se foram incontáveis noitadas, carnavais, tardes e madrugadas, histórias, conversas, agamenetes e leruaites. Quantas práticas do bem aconteceram e acontecem no Point Lauro Maia, o bar do Vaval. É onde a nossa confraria nos faz iguais, mesmo sabendo que levamos distintos modos de vida. É o princípio do bem viver que aprendemos com os eternos meninos da Raça Ruim da Lauro Maia. 

E tem mais, quando quero me amostrar eu digo que sou da Turma do Vaval e até exagero, ao contar da minha grande assiduidade, que não é do tamanho da vontade de lá estar. Mas contarei agora sobre o saudoso Capitão, que durante anos frequentou o aristocrático bar do velho e idolatrado amigo do peito Olival. 

Sidney era o nome do Capitão, que dizia ter sido craque de futebol nos anos 1950, jogando como meio-campista pelo Ferroviário Atlético Clube. Contudo, nunca nos mostrou uma única foto, sequer, dele compondo o esquadrão coral, muito menos um simples recorte de jornal dando conta de alguma peleja que ele tenha tomado parte. 

Capitão também tinha seus dotes artísticos. Dentre eles, imitava como ninguém diversos latidos de cães, chegando a ser gravado na música “O Latido do Capitão”, cantada por Neo Pineo, para puxar o Carnaval da esquina do Vaval. 

Capitão também dizia morar em uma bela mansão do Bairro Piedade, mas nosso amigo Bosco dizia ser conversa dele, pois a casa em que morava, de tão estreita, para se armar uma rede, tinha que pedir ao vizinho o uso de um de seus armadores. 

Homem laborioso, correto e de total confiança de seus patrões, sempre carregava em sua estufada bolsa “capanga” o apurado do final do expediente da empresa que trabalhava, para prestar conta somente no dia seguinte. 

Aliás, ele era useiro e vezeiro em dizer que com o dinheiro dele, não largava de mão. “Para onde vou, carrego minha micharia. Pode ser para tomar uma cervejinha com os amigos, ir à padaria comprar pão, passear pela rua… Até quando vou ao estádio, nunca deixo nem um centavo guardado em casa” – dizia. 

Quando a gente perguntava qual a razão desse costume, ele sentenciava: – “Se eu levo meu dinheiro para onde quer que eu vá, eu arrisco ser roubado. Se eu deixar em casa, eu tenho a certeza!”

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