Opinião

No velho PV – Totonho Laprovitera

“Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” (Nelson Rodrigues)

Se tem uma coisa pra gente cearense gostar, é futebol. Basta ver o público que vai e lota os estádios. É como dizem, “futebol não é a alegria do povo. O povo que é a alegria do futebol!”

Certa vez, convidado pelo meu filho Fernando Victor, fui ao Estádio Presidente Vargas assistir ao Fortaleza Esporte Clube jogar. 

Confesso que dei o maior valor ir ao estádio, coisa que eu não fazia há um bom tempo. Os rituais de assistir presencialmente a um jogo de futebol é maravilhoso. O percurso até o estádio, a caminhada do estacionamento à bilheteria, da bilheteria ao portão de entrada, a escolha do assento da arquibancada, rever a preciosa e brava torcida tricolor, com algumas folclóricas figuras, tudo é muito significativo pra mim. Traz de volta o filme da memória da minha infância, quando eu ia com meu pai e meu irmão aos jogos do Tricolor de Aço, nos anos 1960. 

Vestido com a minha velha camisa (manto!) do Fortaleza, com meu radinho de pilha no pé do ouvido, torci foi muito pelo Leão. E achei tão bom, chega já pedi para o meu filho me chamar para o próximo jogo. Ah, mas sem levar o radinho. É que as transmissões falavam muito mais de propagandas do que do jogo. 

Bem, na tranquila Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, no tempo em que as torcidas se misturavam no Estádio Presidente Vargas, lembro do padrinho Braga Montenegro, trajando um bem engomado “silaque” e torcendo pelo Ceará Sporting Club. 

Quando se aborrecia com a arbitragem, levantava-se da sua cadeira cativa e, de dedo em riste, fuzilava o árbitro: – “Larápio!” 

Naquela época, as desigualdades sociais eram menores e os torcedores mais educados, portanto, se levava em conta o futebol abaixo da boa e saudável convivência de todos. 

Agora, ainda hoje conta o amigo Luiz que os irmãos Elias e Alfredo guardam com o maior orgulho uma fotografia deles – de autoria do grande Zé Rosa – quando crianças, devidamente uniformizados, entrando em campo de mãos dadas com o saudoso Gildo, maior ídolo do Ceará Sporting Club de todos os tempos. 

Diz ainda, que os dois pequenos torcedores, bem gordinhos, se aprontavam para o episódio cortando o cabelo à máquina, passando talco no cangote, perfumando-se e colocando pulseirinhas de ouro com os respectivos nomes gravados. “Quando chegavam no meio do campo, soltavam a mão do ídolo, pegavam a bola do jogo e gritavam ‘Aí é Gildo!’”, descreve Luiz.  

A cena repetiu-se por anos, até que o anãozinho Titico, da Polícia Civil, resolveu ser mascote do Glorioso de Porangabussu e não teve mais vez para seu ninguém! 

São tantas histórias passadas no Estádio Presidente Vargas, chega depois eu conto outras. No mais, é como compôs Vinicius de Moraes, “misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol”. 

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS