Opinião

No processo de não ser nada – Aldonso Palácio

André Nódoa (Fortaleza, 1991) é um investigador da verdade das pequenas coisas. Sua poética passa pela observação e contemplação minuciosa do que o cerca. Um exercício de ver até o estranhamento, como se fosse a primeira vez, até que tudo o que é ordinário, pisado, rejeitado, torne-se sublime. É como se as coisas guardassem segredos, e se você ficar ali parado tempo suficiente, pode ser que você consiga capturá-los. Conhecido por seu traço inconfundível no muralismo e arte urbana, a prática de Nódoa de ateliê é mais introspectiva e marcada pela constante experimentação autocrítica que se confunde com sua incessante busca por si mesmo como artista. Seu olhar atencioso e sensível sobrepõe imagens dentro de imagens em recortes retangulares, seja na pintura, nas colagens ou nos vídeos. As imagens (ou acasos) são dispostas calculadamente sobre as obras prontas como pontes de significados, mas não pretendem esclarecer nada – convidam nosso olhar a flanar sobre essas pontes e fazer a nossas próprias sinapses, deixando o acaso trabalhar. “Todo ato de criação só começa quando ponho o pé pra fora do labirinto do ‘eu sei’ e começo a andar com firmeza no terreno imundo da dúvida”, afirma o artista. Num mundo cheio de projetos de certezas, ele traz as vírgulas e reticências tão necessárias. Nódoa faz um trabalho de maturação lenta, sem pressa para chegar em nenhum lugar da arte. Ele confia na foice do tempo e segue firme, como uma mancha persistente.

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