Opinião

NO “OI DA PEDRA” – Totonho Laprovitera

“Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfar.” (Jon Kabat-Zinn)

Lembro que, na segunda metade dos anos 60, a onda da juventude praiana fortalezense era pegar carretilha, nas praias do Náutico, AABB, Diários e Ideal. Lembro, como se fosse hoje, do Humberto Cachorrão, com os olhos encarnados pelo sal do mar, tomando sorvete de chocolate, no Náutico, abraçado com a sua prancha de isopor, vestida com uma bem cortada e costurada capa vermelha, confeccionada pela sua mãe. Lembro, também, de uma enorme prancha de madeira, apelidada de Pirocão, com a qual o Ronaldo Fazendeiro, Sérgio Capibaribe e André Grieser pegavam onda no “Oi da Pedra”, defronte ao Náutico.

Segundo Rodrigo Gurgel de Oliveira, nos primórdios do “Oi da Pedra”, surgiu a primeira prancha de “surf de pé”, feita em compensado nas cores azul e branca, e que era a do Boinha. Logo depois, o Lula Costa trouxe dos Estados Unidos uma de fibra de vidro. De cor amarela, media cerca de 3,5 metros e era preciso duas pessoas para carregá-la à praia. Depois, Gladstone, irmão do Lula, surfou com essa prancha que, de tão grande, foi cortada em duas, de tamanho médio.

Já o Idelano Felício conta que, por volta de 1965, ele e o Wilson Cavalcante compraram uma prancha da marca Procópio, fabricada no Rio. Dela, também fazia uso o Boinha e o Aldenir Castro, pegando onda no “Oi da Pedra”, onde juntava era gente para ver, pois não tinha outra por lá.

Agora, diz o Paulo Teixeira, que pegava onda era “no peito”. Já, o Mateus Silva, nas “tabuinhas” que os taiobeiros emprestavam.

No início dos anos 70, com modernas pranchas em fibra de vidro, os primeiros surfistas cearenses foram batizados no “Oi da Pedra”. Para lembrar de alguns, em ordem alfabética, cito os nomes de: Alfredo Montenegro (Alfredinho);  André Grieser; Anselmo Mororó; Antonio Carlos Quinderé (The Quindere’s); Carlos Ramos (Carlinhos Pretão); Gladstone Costa; Humberto Lima (Cachorrão); Jorge Meneleu Fiúza (The Jorge); Junior Viana (Sibite); Kelson Martins; Lourenço Macedo (Lolô); Odalto Castro; Paulo Carvalho Júnior (Canário); Ronaldo Martins (Fazendeiro); Sérgio Capibaribe; Tarcisio Ramos (Grafite) e Walmir Castro Junior (Juninho, hoje, Neo Pineo).

Pois é, alguns parafinados e grausados, outros não, esses foram os jovens audazes e pioneiros na arte de deslizar nas mornas águas bravias dos mares alencarinos.

Hoje, livrando-se das edificações que teimam em invadir a nossa orla marítima, o “Oi da Pedra” é apenas uma formação rochosa na Praia do Meireles que adentra ao mar de forma poética. Mas ainda inspira em versos o quebrar de cada onda na enseada do Mucuripe. Acho que foi lá onde o surf começou no Ceará.

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS