Opinião

No doutor psiquiatra – Totonho Laprovítera

Totonho Laprovitera

A Caterina Saboya.

 “A insônia vem quando você menos espera.” (Graciliano Ramos)

Muitos têm preconceito com a psiquiatria, pois existe um estigma bastante forte que a relaciona com a loucura, como se o psiquiatra fosse unicamente o médico dos loucos e, muitas vezes, o próprio louco. Eu, não.

Pois bem. Um dia eu senti a minha qualidade de vida ficar comprometida pela insônia. Já começava o dia me sentindo cansado, ansioso, com problemas de humor, falta de energia e o desempenho no trabalho prejudicado por causa desse distúrbio. E o pior, escutando nas fulgentes madrugadas os terríveis conselhos da insônia.

Procurando ajuda médica, fui a um psiquiatra. Diagnosticada a minha insônia, comecei o tratamento. Mudei meus hábitos de sono, tomei medicamentos e, em um breve espaço de tempo, restaurei meu saudável padrão de sono.

Mas uma vez eu estava no consultório do doutor psiquiatra, quando adentrou na sala de espera um velho amigo, e fazia um bom tempo que não nos víamos. Com um vago e periférico olhar, quando a todos espiava, ele me pulou.

Porém, nos avistamos e, de cara, senti o desconforto dele. Fiquei na minha.

Sorrateiramente, o amigo se chegou a mim e, talvez arriscando uma certa cumplicidade, avexado puxou conversa: – “Totonho, eu estou aqui por causa de uns problemas de ansiedade, sei lá…”

Em silêncio, olhei pra ele, mas permaneci calado.

Continuei calado.

E o amigo tacou a contar da sua vida, dos seus problemas pessoais, das desavenças familiares, das frustrações profissionais, liseira, sorte, o diabo a quatro! E eu mudo.

Lá pelas tantas, depois de debulhar todo o rosário da sua entediada vida, ele me perguntou.

Foi desse jeito e até hoje, quando nos topamos, o amigo véi me olha todo desconfiado.

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