Opinião

Narcelio Grud e o que nos toca – Aldonso Palácio

A escultura sonora “Call Bell” foi uma resposta do artista Narcelio Grud às questões levantadas quanto ao isolamento e à necessidade de mudanças. As treze sinetas dispostas de maneira simétrica sobre o globo transparente foram afinadas individualmente, e produzem sons diferenciados. Tocar uma campainha implica àquele que a toca simultaneamente um ato de comando e de espera – nossos desejos urgem a ser atendidos, mas é necessário exercer a virtude da paciência. Ao mesmo tempo implica àquele que ouve um estado de alerta e atenção. Na obra de Grud, as tensões simbólicas ao acionar a sineta desprendem-se da ação automática e transformam-se em convite para exercer a sensibilidade. O espelho no fundo da obra reforça a dualidade entre ator e receptor, inserindo o indivíduo em uma nova dimensão visual, possibilitando enxergar a si. “Através da nossa própria imagem busco um jeito de olhar pra dentro e com isso aprofundar a experiência e a perspectiva do quê chamamos a servir e a quê servimos”, diz o artista. Quais sinos podemos tocar e quais sinos nos tocam? 

Narcelio Grud tem suas origens na música e na intervenção da paisagem urbana. Sua trajetória de mais de 20 anos nos mostrou invenções bem humoradas, que convidam à interação e que brincam com o movimento, a cor e o som. Sua primeira leva de esculturas sonoras (1998 – 2008) foram experimentos de reutilização de materiais descartados que o seguiram durante carreira paralela como instrumentista. Da rua para a prática de ateliê, sua produção dá um salto conceitual e de refinamento estético, como pudemos ver na exposição Dhamma (Casa do Barão de Camocim, Fortaleza, 2018 e Galeria Choque Cultural, São Paulo, 2019). 

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