Opinião

Mentira – Totonho Laprovitera

“Só três entes veem alma: o medroso, o mentiroso e o maluco.” (Padre Osvaldo Chaves)

“Há duas raças de gente com as quais simpatizo: mentiroso e doido, porque eles são primos legítimos dos escritores”, alegava Ariano Suassuna. 

Desde pivete, Serginho já era cheio de história. E criava cada uma… Pois bem. Mal começou a falar, já disse para mãe que na escola lhe chamaram de mentiroso. A mãe respondeu: – “Cala a boca, menino, que você ainda nem vai à escola!” 

Há quem diga que as pessoas preferem acreditar em uma grande mentira do que em uma grande verdade. Bem, a mentira é a afirmação do contrário ao que é considerado verdadeiro. Ela se espalha sobre realidades e devaneios e, comumente, causa danos ao mentiroso e ao que se sente iludido com ela. 

Noutro dia, ouvindo dizer que “a mentira é uma grande história que alguém estragou com a verdade”, lembrei do que minha tia Lygia dizia: – “Mentira conveniente não é pecado.” Pois é, nos dias de hoje parece que assim como a verdade é absoluta, do mesmo jeito a mentira também é. 

Já, o professor Carlinhos Analfabético articula: – “Hoje em dia, o sem vergonha cobra respeito, o fofoqueiro privacidade, o falso sinceridade e o mentiroso verdade. É comum exigir dos outros o que não se faz.” 

Bem, tá no pai dos burros que mentira significa o ato de mentir; engano, impostura, fraude, falsidade. Hábito de mentir. Engano dos sentidos ou do espírito; erro, ilusão: Ideia, opinião, doutrina ou juízo falso. Fábula, ficção. 

Estou falando em mentira porque hoje cedo escutei em um programa de rádio: – “Nenhum homem tem a memória tão boa para se tornar um mentiroso bem sucedido. Abraham Lincoln.” Olha, não é por nada, não, mas assim sendo, eu conheço um bocado de gente com privilegiadas memórias. Uma verdadeira legião de audazes mitômanos que, na maioria das vezes, cada um deles sabe que o que diz não é verdadeiro, mas contar mentiras lhe faz sentir bem e acalma suas angústias. É que, em certos momentos, o sujeito prefere crer mais em sua realidade que na objetiva – a de fatos visíveis. É a precisão de contar falsas histórias para se sentir bem consigo mesmo.  

Para mim, mentira é apenas algo dito não sendo verdade. E tem mais, eu dou o maior valor aos meus adoráveis amigos mentirosos! 

Na rua Floriano Peixoto, no Centro de Fortaleza, havia um espaço onde reunia-se a molecagem cearense: o cajueiro botador ou cajueiro da mentira. Lá, todo dia 1º de abril, era onde se elegia o maior mentiroso da cidade. O concurso ocorreu até 1920, quando o então prefeito Godofredo Maciel ordenou o corte da árvore, terminando com a festa dos mentirosos. 

Atualmente, dizem que tem é gente querendo resgatar essa tradição. 

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS