Opinião

Mãe Chiquinha – Totonho Laprovitera

“É preciso amor na receita do bolo.” (Toim da Meruoca)

A partir de pães adoçados com xaropes de frutas – tâmaras e passas – o bolo surgiu no Egito Antigo. Aí, no período renascentista, a receita foi aprimorada pelos romanos, especialistas na técnica da fermentação. Foram eles que puseram o nome “bolo”, por causa da forma redonda, feito bola. 

Já, em Portugal, o bolo exercia viva função social. Ao chegar no Brasil ele tomou uma importância danada. No primeiro século da colonização, nas classes mais altas da sociedade, era servido à mesa em pomposa travessa, com muita ostentação – comumente, nas casas dos padres mais abastados e de antigos magistrados. 

Agora, o negócio é o seguinte. Para quem gosta de bolo fofo acompanhado de um café bem quentinho – perfeita combinação! – eis uma receita simples. 

Ingredientes (para 12 bocados): 2 xícaras (chá) de açúcar; 3 xícaras (chá) de farinha de trigo; 4 colheres (sopa) de margarina; 3 ovos; 1 e 1/2 xícara (chá) de leite; 1 colher (sopa) de fermento em pó. 

Preparo: Bata as claras em neve e guarde. Misture as gemas, com margarina e açúcar, até a massa ficar uniforme. Junte o leite e a farinha de trigo aos poucos, sem parar de bater. Por derradeiro, adicione as claras em neve e o fermento. Derrame a massa em uma forma untada e enfarinhada. Asse em forno a 180°C, preaquecido, uns 40 minutos. Para saber se está no ponto certo, fure o bolo com um garfo. 

Falando em bolo bom, Mãe Chiquinha era reconhecida como a melhor boleira e doceira da Fortaleza de antigamente. Em 1892, foi na Praça do Ferreira – resumida a um campo de areia com mongubeiras e quatro quiosques nas pontas – onde defendeu o seu sustento, fazendo uso de sua popular culinária de origem africana. 

Com o surgimento do Majestic Palace, em 1917, Mãe Chiquinha pegou seu tabuleiro e se instalou ao lado daquele cineteatro, bem debaixo de um pé de Ficus benjamin. Depois, mudou-se para o Largo do Telégrafo. Curiosamente, não era raro ela enfiar o garfo ou dar fortes beliscões no malcriado que se metesse a triscar em seus bolos. De quebra, ainda mandava o atrevido “pro diabo que o carregue”. 

Em 1941, para surpresa de todos, Mãe Chiquinha foi brutalmente surrada pelo filho até a morte. Aí, cabe ao poeta dizer: “a vida é um bolo que não segue receita”.

Mas como associo bolo à alegria, pego essa prosa de Zeca Sibite para nos regozijar: “No tempo chei de alegria / A natureza faz a festa / Na lei da floresta / Chega a cobra, foge a jia. / Lá bem no mei-do-chão, / Tá o bolo e o guaraná / A cigarra na canção / E a formiga a trabaiá.” 

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