Opinião

Julia Panadés, o potente encontro feminino I – Aldonso Palácio

Julia Panadés (1978) é uma artista mineira que produz arte não apenas nas telas mas também através da palavra, escrita e falada. Conversar com ela é ser convidado a pensar, assim como parar e olhar seus quadros. Cheia de referências, nada que sai da sua boca é em vão. Pergunto se ela se identifica com as obras do artista cearense Leonilson, e ela me corrige: “Não é exatamente uma identificação, é mais um reconhecimento. Identidade supõe uma semelhança, uma convergência. A obra de Leonilson me causa sustos, arrombos, me é tão própria e, no entanto, não é minha”, ela confessa.

Ainda sobre Leonilson, ela revela que apesar de não lembrar a referência exata, ficou muito impactada com uma frase dele: “Meu trabalho é prestar atenção nas coisas”. Assim como ele, ela também está atenta e nos incita também a prestar atenção nas coisas.

Atravessada pelo feminino, sua mais recente série “Dar Templo ao Tempo”, produzida a partir de 2020, reflete o tema da ancestralidade, que perpassa a dimensão humana, quer abarcar todos os reinos, vegetal, mineral, etc. É uma série de desenhos em aquarela, que começa com um estudo cromático. A primeira geração da série são os trabalhos azuis e vermelhos que trazem à tona as mulheres geológicas, assim como a mulher canoa. Dessas imagens, vão se desdobrando outras. Da canoa que dialoga na sua concavidade com o corpo feminino nascem outras imagens, como os arvoredos andantes. Sua obra aponta para uma possível insistência da vida humana e planetária.

Ela afirma que o interesse pelo tema iniciou com um estudo da forma cósmica do ovo. Produzia insistentemente essas figuras ovais em seus cadernos, guardiões de sua mente criativa. O ovo também aparece em outros desenhos, simbolicamente representando a origem da vida. Além da série cromática, foi adicionado também uma parte de seus trabalhos em tecido produzidos em 2019 e que dialogam com a temática e paleta de cores das outras obras.

A série “Dar Templo ao Tempo” de Julia Panadés esteve em exposição na Galeria Gal em 2022, em Belo Horizonte. Traz a potência da energia criadora de uma artista que transcende a própria dimensão do feminino, é um mergulho na energia cósmica que gesta e gere ao mesmo temp(l)o.

(Pela correspondente Caroline Domingues, de Paris)

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