Opinião

Igor Vidor e a Alegoria do Terror – Aldonso Palácio

Igor Vidor nasceu em 1985 em São Paulo, vive e trabalha em Berlim desde 2019. O artista observa de perto a incessante violência que impera nas ruas do Brasil, em especial nas favelas do Rio de Janeiro, seja coletando os cartuchos de balas no chão, os lençóis utilizados para cobrir corpos estendidos ou apropriando-se das armas de brinquedo feitas pelas crianças da comunidade. Com tais materiais, Vidor modela uma estética da violência e relata sua profunda experiência pessoal dentro deste ambiente repressivo. Ele reflete sobre as estruturas de exploração, do comércio e lucro ligadas à indústria de armas, à polícia, à milícia e à indústria de segurança privada no Brasil.

Vidor apresenta “Alegoria do Terror” na Künstlerhaus Bethanien, resultado da sua residência artística na instituição. As logomarcas das indústrias armamentistas são estampadas em bandeiras e lençóis populares em duas instalações diferentes, nestes últimos como que anunciando o trágico ciclo de vida desses objetos nestas zonas de conflito. Ele também observa o emblemático uso dos avatares animalescos utilizados dentro do contexto brasileiro militar e paramilitar de aplicação da lei – a cobra, a onça, a águia – impressas sobre Kevlar utilizado na blindagem de automóveis e espacialmente dispostas numa estrutura quimérica montada sobre arame. O resultado transmite a promessa de bote e carnificina simbolizados por esses animais.

Sua mudança para Berlim se deu devido às ameaças de morte que sofreu a partir de 2018, devido à temática crítica e teor de denúncia que aborda em suas exposições e vídeos. O artista é amparado pelo iniciativa alemã Martin-Roth, um programa que protege artistas perseguidos em seus países de origem, impossibilitados de exercer sua prática de expressão livre.

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