Opinião

Henfil e Jaguar – Totonho Laprovitera

A Mino Castelo Branco.

“A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo:

a de que ninguém é superior a ninguém.” (Paulo Freire)

O humilde possui o predicado da virtude qualificada pela consciência de sua modéstia e simplicidade.

O arrogante finge-se de humilde. Não admite o erro, não pede desculpas por errar, como se seu erro não lhe pertencesse. Na minha opinião, a arrogância é um dos piores defeitos das pessoas.

Pois bem. Em João Pessoa, na segunda metade dos anos 70, fui convidado a compor a mesa em um barzinho que recebia dois famosos cartunistas, de forte teor político-social no cenário nacional: Henfil e Jaguar, do Pasquim – semanário alternativo, editado de 1969 à 1991.

Naquele tempo, Henfil morava em Natal por conta de um autoexílio, como ele mesmo espalhava. Jaguar havia visitado o amigo, de onde seguiram juntos à capital paraibana por conta de um evento sobre imprensa nanica. À mesa, acompanhavam a dupla: eu, Wiron, Lúcia e Nelci, professoras do curso de arquitetura e urbanismo da universidade local.

Entretanto, passou a chamar atenção no lugar uma figura da cidade a bajular o tempo todo os cartunistas. Aí, quando se aproximou da gente um senhor franzino, de cor parda e de jeito humilde, procurando falar com Jaguar, o bajulador se aproveitou para se amostrar:

Jaguar levantou-se e, educadamente, estendendo-lhe a mão cumprimentou e colocou-se à disposição do humilde senhor.

O puxa-saco calou e limitou-se a assistir, a partir dali, Jaguar dando toda a atenção e conversando demoradamente com o senhor, repórter da Manchete.

Henfil, à parte, não parava um instante sequer de falar, não notando nem o acontecimento que agora conto.

Conversamos muito, bebemos muito, fomos embora e a história até hoje permanece gravada na minha memória.

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