Opinião

Grada Kilomba transcende estereótipos – Aldonso Palácio

Grada Kilomba (1968) é filósofa, psicanalista, professora universitária, escritora, curadora e artista visual. Nascida e criada em Lisboa, com raízes angolanas, são-tomeenses e portuguesas, berlinense por escolha, ela considera conflitante dizer que pertence a qualquer lugar específico. Na verdade, ela condena noções patrióticas de identidade e nacionalidade. Porta-voz de novas abordagens sobre o pensamento descolonial e o racismo, ela mescla seu trabalho acadêmico à narrativas femininas e pretas, elucidando assuntos complexos em forma de parábolas cotidianas. Ela consegue trazer sua mensagem próxima ao público, tecendo uma representação honesta do racismo institucionalizado e da dinâmica dos exploradores. Sua arte-ativismo se dá através da escrita, teatro, dança e leitura num espaço híbrido de interdisciplinaridade entre o academicismo e as linguagens artísticas. Seus trabalhos, profundos em pensamento, crítica e nuances, são construídos de forma coletiva e inclusiva, abandonando noções cansadas na arte de autoria e individualidade. 

A artista define o colonialismo como um crime contra a humanidade que tem estado no centro da política global por mais de cinco séculos. Kilomba está frustrada com a forma como as narrativas dominantes têm retratado as minorias sempre como a “o outro”, deixando a brancura como um ideal estético. Mas isso é exatamente o que mexe com ela. Implacável e de extrema beleza poética, o trabalho de Kilomba coloca o dedo nas feridas de nosso tempo, chama atenção aos sentimentos não-ditos, às emoções não articuladas, nossos desejos e inibições mais profundos. Em seu recente trabalho de vídeo-instalação ela entrega uma nova roupagem às sagas gregas clássicas, colocando  personagens femininos e pretos empoderados em lugar de decisão e negociação, desconstruindo conceitos de conhecimento, poder, violência, trauma – sem medo de dar nome às coisas e apresentar deturpações históricas do passado colonial que foi romantizado e glorificado. 

Em seu trabalho “Narciso”, ela começa e termina sua fala exatamente com as mesmas palavras: “Fui convidada a vir aqui hoje, mas sinto que não há nada de novo que eu possa dizer. Muitas vezes tenho a sensação de que tudo já foi dito. E muitas vezes sinto que todos nós já sabemos tudo, apenas tendemos a esquecê-lo”.

O trabalho de Grada Kilomba foi apresentado na 10ª Bienal de Berlim, 32ª Bienal de São Paulo, Documenta 14 e em diversos museus ao redor do mundo. Sua primeira exposição individual em Berlim – “As Palavras que Faltavam” – vai até o dia 12/6 na Galeria McLaughlin.

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