A técnica da xilogravura proporcionou uma revolução histórica por ser uma das mais acessíveis formas de se reproduzir ilustrações em alguma escala. Ela ganhou força na cultura ocidental a partir do Século XVIII, quando as meticulosas e coloridas xilogravuras japonesas conquistaram a Europa e influenciaram uma geração de artistas. A transferência de tinta da madeira para o papel está arraigada na cultura popular do Nordeste brasileiro devido principalmente à literatura de cordel. A tradição europeia medieval desenvolveu-se em nosso solo assimilando o folclore, credo e sincretismo local. Em um certo momento os artistas xilógrafos libertaram-se do formato utilitário da capa e as criações passaram a ter status de obras de arte.
Francisco Delalmeida é provavelmente o artista contemporâneo que mais desenvolveu esta tradicional técnica, produzindo formatos monumentais em rolos de papel de até 20 metros. A área é trabalhada de forma fragmentada a partir de sua exímia coleção de matrizes, as decisões de cores e composição aproximam-se da pintura clássica. Nascido em Crateús, teve como mestre Sebastião de Paula, e como escola o Museu de Arte da UFC. O trabalho de Delalmeida é impregnado de uma força que vem da terra, do povo e da fé do sertão. Altares barrocos e seres sagrados misturam-se a monstros de uma mitologia imaginada, num equilíbrio de forças que denotam a eterna dicotomia entre a vida e a morte. Flora, fauna, quimeras, astros, profetas, índios compõem um trabalho que vai além da espiritualidade, sugerindo uma nova cosmologia, uma rica visão de um universo poético em embate e evolução. Suas experimentações o permitem agregar elementos às xilogravuras como pedras, búzios, carvão, vidro. As leituras são múltiplas e inesgotáveis, e talvez guardem segredos de outros mundos.
Quem já conversou com Francisco, o homem-artista, sabe como ele é uma pessoa de sensibilidade humana ímpar, que emana uma luz própria e cativa a todos com suas reflexões cheias de sabedoria e simplicidade. Francisco é, acima de tudo, um observador. Vagando em vôo ele enxerga o mundo ao seu redor e trata a arte e alma como uma coisa só – tudo parcela do infinito, luz, poesia.
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