Opinião

Etecetera – Totonho Laprovitera

Bezerro Guajiru

“Viver é etecetera.” (Guimarães Rosa)

O meu padrinho de batismo era o escritor Braga Montenegro. Nos dias de festa da minha infância, ele, funcionário do Banco do Brasil, me presenteava com uma certa quantia em notas de um cruzeiro. O bolo de dinheiro me enchia os olhos e me fazia sentir rico.

Hoje, entendo que aquela minha “riqueza” valeu pela história que agora eu conto.

Para criar no nosso sítio, em Parangaba, eu ganhei do meu padrinho de crisma, Narciso Pessoa, uma bezerra da raça holandesa. Botei o nome dela de Crasa, por causa da concessionária de automóvel, que na época tinha em seu reclame da televisão o desenho animado com um simpático personagem chamado Raimundinho.

A Crasa cresceu, consegui uma cobertura pra ela lá pelas bandas do Itaperi, pela qual emprenhou e deu cria ao lindo bezerro Guajiru – mesmo nome do sítio. Porém, como o meu desejo era uma bezerra, ideal para desdobrar o meu rebanho, perdi o gosto pela pecuária e vendi meu gado por alguns quatrocentos ou seiscentos cruzeiros.

O dinheiro da venda, primeiramente, entreguei por empréstimo a meu avô Miguel. Depois, cresci os olhos com o mercado financeiro e resolvi pegar a quantia de volta para emprestar ao “seu” Petrônio, amigo do meu pai e tradicional lojista, dono da Cruz de Ouro. Pedi quatro por cento ao mês, ele riu e aceitou a brincadeira, para mim, coisa seríssima!

Posteriormente, resgatei o dinheiro e apliquei em letras imobiliárias, na época, a grande novidade do mercado financeiro. A carteirinha de investidor era motivo de vaidade e eu fazia questão de apresentá-la para me mostrar.

Mais tarde, troquei a aplicação para o mercado paralelo e, por conta da “vultuosa” quantia, terminei foi recebendo uma viagem para passar a Semana Santa em Majorlândia, praia do grande Aracati!

Naquela época eu era tão tímido, chega quando eu ia tirar uma menina para dançar nas tertúlias, era desse jeito: Vamos dançar? – quase cochichando.  Com a radiola no volume máximo, ela franzia os olhos e perguntava: – “O que é?!” E eu, retraidamente, disfarçava: – Estou pedindo pra passar…

Hoje,  artista múltiplo, arquiteto, urbanista, cronista, apresentador de televisão, boêmio, simples, humilde e desinibido, plenamente dedicado à família e aos amigos, graças a Deus, sou um homem feliz etecetera.

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS