Opinião

Emma Talbot, arte e a transiência da espécie humana – Aldonso Palácio

Vistas da exposição “In the End, the Beginning” de Emma Talbot, KINDL Centro de Arte Contemporânea, Berlim (foto: Aldonso Palácio)

A artista britânica Emma Talbot (1969, Stourbridge, UK), que já participou da Bienal de Veneza, apresentou em Berlim uma instalação site-specific de suas expansivas pinturas sobre tecido, tomando todo o espaço do gigantesco galpão da cervejaria centenária KINDL, hoje um centro cultural. As coloridas pinturas, com mais de 10 metros de altura, foram fixadas em trilhos curvos, abraçando o visitante, criando um percurso a ser desvendado em três estágios.

O pensamento de Talbot pode ser considerado como pós-antropocêntrico e pós-humano. A narrativa começa com a toxicidade do nosso tempo em “A Tempestade” – criaturas míticas sem rostos pairam sobre um vortex criado por duas cobras gigantes que digladiam e alertam, “Existe uma maneira de sair dessa tormenta que criamos?”. A artista embute repetidas vezes perguntas urgentes e fragmentos de monólogos internos como texto em suas criações. A pintura “Materiais da Sobrevivência” oferece um vislumbre de um mundo harmonioso onde a natureza existe em equilíbrio – uma aranha gigante, vários insetos e flores são os protagonistas e os seres humanos desempenham apenas um papel secundário. A terceira grande pintura “No Final, o Começo” sugere um restauro possível, um futuro esperançoso após a tormenta e a cura. As pinturas tomam partido de uma composição típica das cosmologias de alguns povos originários, com cores e elementos emprestados da estética psicodélica.

Questões existenciais em tempos de catástrofe marcados por instabilidade ecológica e política, Emma Talbot dá ênfase a imperativas que apontam para um futuro que valha a pena viver. Através do seu trabalho ela evoca por mudanças e escancara o caráter efêmero da existência humana. A fala da aranha gigante ainda ecoa: “Nós não somos o centro”.

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